Denúncias anónimas confirmam?
Marinho Pinto reitera hoje, em entrevista, que o caso Freeport foi “cozinhado”.
Tenho especial apreço pelo Bastonário da Ordem dos Advogados e não tenho qualquer rebuço em acreditar na consistência da sua afirmação.
O Bastonário - que conheci durante a sua fugaz passagem por Macau - não se preocupa com o discurso politicamente correcto, exprime as suas opiniões com frontalidade, sem se preocupar em saber se está contra a corrente. Por isso, quando na mesma entrevista defende a demissão de Lopes da Mota, antes da conclusão do processo disciplinar, também valorizo a sua opinião.
Curiosamente, as palavras de Marinho Pinto têm tido pouco eco. Presumo, mesmo, que haja por aí muita gente a desvalorizá-las e a acusá-lo de se estar a colar ao poder, no caso Freeport, mas a invocá-lo em relação a Lopes da Mota.
Persigno-me diante do Cristo Rei e peço perdão por valorizar mais as afirmações de pessoas que não escondem a cara do que as informações e cartas anónimas fazendo denúncias, de que a comunicação social faz eco.
A denúncia anónima é um resquício do espírito pidesco que desprezo. Será uma questão geracional? Talvez. Isso não impede que arregale os olhos de espanto quando ouço (e leio) " denúncias anónimas confirmam..." .
Se a memória não me falha, Eduardo Graça - ex-presidente do Inatel - afirmou há tempos, numa entrevista, que não dera sequência a uma queixa que lhe tinha sido apresentada, por ter sido feita a coberto do anonimato. Segundo as suas palavras, atirou a queixa para o lixo. Penso que fez bem. Eu faria o mesmo. Por imposição ética que pauta a minha conduta pessoal e profissional. *
Uma sociedade que dá especial credibilidade a denúncias anónimas e desvaloriza quem assume com frontalidade as suas posições, desde que não sirvam os interesses que prossegue, é uma sociedade doente. Portugal é um país doente.
Mas isso eu já sabia e a maioria dos que lêem o DO certamente também.
* Voltarei mais tarde a este tema