O tempora! Volta para trás, o mores!

Mandar no tempo é uma dos modos mais afirmativos do exercício do poder.
Nas bolhas empresariais premeiam-se os vertiginosos e os incansáveis, aqueles que aceleram mais depressa que os outros e consequentemente capturam as melhores oportunidades. É célebre o CEO de uma companhia do PSI-20 que dispara sms como um órgão de Estaline até altas horas da madrugada, fazendo os seus executivos correr às voltas como hamsters na roda.
Astutos, os Meritíssimos Juízes do Tribunal Constitucional (MJTC), procedem de maneira precisamente contrária, de forma a atingirem os mesmos resultados. Com o fito de exercerem o seu predomínio sobre os assuntos terráqueos promovem uma noção de tempo semelhante ao dos glaciares: imponente, álgido e quase tão geológico como o deles.
Presumem-se assim os MJTC apartados das tribulações, das contingências e das conspurcações da vil matéria que são os negócios políticos. Havia necessidade de saber se o orçamento de Estado era harmonizável com a lei fundamental, antes de o submeter às bênçãos da troika? Pois que aguentem, que o tempo da nossa douta ponderação é imune à vossas rapidezes, ó míseros mortais – terão murmurado os corvídeos magistrados, quiçá contemplando as intricadas e demoradas linhas do Batarda que lhes serve de amparo quando têm que se sujeitar ao mundo.
Irão agora os governantes cá do burgo volver, de boné na mão, às altas esferas do capital, que tão relutantemente nos creditam, para lhes transmitir: “afinal aquilo que acordámos já não é bem assim…”? Estarão agora as oposições proclamando que chegou a sua hora mas também ainda não, que nesse imbróglio é que não as apanham? Mas que berraria será esta, indagar-se-ão os supinos MJTC, incomodados na sua preclara sonolência.
Seremos a chacota das instituições civilizadas? Uns velhacos sem palavra, em que não se pode confiar nem um asno? Uma piolheira que só merece pão e água? Que importância tem isso a quem placidamente voga no éter da jurisprudência metafísica?
Proponha-se então, verificando-se os MJTC de tal modo desprendidos das paixões carnais, que pelos seus árduos trabalhos sejam remunerados não em abjecto metal, mas em filtros de ambrósia e néctares mercuriais. Para nós seria mais uma poupançazita, para eles decerto um alimento essencial.