Sem medo nem vergonha
Ouvi ontem no programa da SIC Notícias "Negócios da Semana" o empresário têxtil Luís Guimarães dizer que a carta aberta que escreveu a este governo jamais escreveria ao anterior por receio de represálias. O comentário, vindo de uma pessoa que se queixa do actual executivo, era suficientemente insuspeito, por isso deixou-me a pensar. Medo? Lembrei-me então de vários casos que ocorreram no tempo de Sócrates. O do professor da Dren Fernando Charrua, que levou a uma condenação do Estado, o do blogger António Balbino Caldeira, o afastamento de Mário Crespo do JN, da Manuela Moura Guedes da TVI, do José Manuel Fernandes do Público. Penso que nunca um governo moveu tantos processos contra jornalistas como o de Sócrates. Medo? O Luís Guimarães não aprofundou. Pena. Gostaria de saber pormenores, porque ter medo de falar é muito grave.
Por coincidência, na manhã seguinte o homem aparece. E nem sequer está nevoeiro. Alcandorado à posição de senador - não é o que todos eles passam a ser quando se tornam comentadores? - vai falar ao povo da tribuna da RTP, a televisão do Estado. Feito Gungunhana, diz aqui em baixo o Rui? Se a sua presença na pantalha aproveita ao governo é porque se revela um tudo nada aviltante para a maioria dos portugueses. Ele, como não é ingénuo, sabe-o e ainda assim quer falar, sem vergonha e presumo que sem medos. Isso, devo dizer, é exactamente o que mais me revolta o estômago.