choques relativos
Quando o miúdo disse que já tinha fumado um charro, o meu primeiro pensamento foi:
Ainda bem que não estamos nos Estados Unidos da América. Perdias todas as hipóteses de chegar à sala oval.
O pensamento era um truque, como qualquer outro, para não reflectir exactamente no que me fora dito. O silêncio é de ouro? Não, nestes casos. Por isso, não sei porquê, limitei-me a continuar a andar, no mesmo passo, a mesma velocidade. E com ele ao meu lado, eu disse:
Os charros davam-me para chorar. Era ridículo. Desisti. Todos se riam menos eu.
O miúdo sorriu. Como está naquele idade, limitou-se a passar a sua mão, muito discreto, muito levemente, pela minha. Depois parou, colocou as mãos nos meus ombros e confessou:
Foi só uma vez, mãe. E não voltará a acontecer.
Eu sorri e continuámos.
Na minha cabeça comecei a contabilizar todas as asneiras que fiz com a idade do petiz até aos vinte e pouco. Ele não ganhará no disparate, é mais sábio. Mesmo que eu saiba que não há "só uma vez".