Ou lá terá que ser?
Na mesma semana em que compro um livrinho que integra um conjunto de intervenções e reflexões de Noam Chomsky, dirigidas ao movimento Occupy, que em Setembro de 2011 se manifestou em Nova Iorque, dou conta que em Lisboa se convocam consecutivas assembleias abertas de discussão sobre o futuro da democracia e, esta manhã, do discurso de um participante no Fórum TSF, que traçava, seguríssimo, o seu plano de salvação. Espanta-me a coincidência de, numa meia dúzia de dias, em lugares diferentes, a mesma canção ecoe. Chomsky, assumindo a enorme dificuldade (ou mesmo a impossibilidade) de inverter o sentido do poderoso sistema montado nos EUA e em outros países, baseado em políticas neoliberais e de austeridade, escudadas nos défices e negligenciando a dignidade dos homens, apela à união de todos os que por elas se vêem sufocados, mesmo que não tenham soluções; a agenda das reuniões populares no Rossio lembra que "só com a nossa participação e empenho a democracia poderá ser a arma que nos permitirá ser donos do nosso futuro e de termos uma palavra que seja escutada e respeitada por aqueles a quem confiarmos a responsabilidade de executar aquilo que forem as decisões dos cidadãos"; e o ouvinte radiofónico, perante o auditório, desenrola exactamente a mesma opinião - nada nos tirará desta "roda" se não nos juntarmos em comunidades que se apoiem mutuamente e se bastem no essencial a si próprias, à margem dos poderes instituídos e dos partidos políticos que nos voltam as costas.
Levará tempo, será doloroso, mas como em outras épocas em que a desigualdade excedeu todos os limites, a acção popular acabará por influenciar o caminho destas democracias ocidentais que dividem a sociedade em dois grupos percentuais esquisitos: 1% de abastados e 99% de miseráveis. Será?