Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O meu país preferido

João André, 28.01.13

Cumpri em Dezembro 9 anos a viver na Holanda já sabendo que não chegaria aos 10. Irei começar em Abril uma nova etapa da minha vida profissional que me levará a viver novamente numa Alemanha onde estive pouco depois de terminar o curso. Ao todo passei 10 anos dos 19 da minha vida adulta a viver fora do país onde nasci.

 

Isto de nascer num determinado país tem que se lhe diga. Os holandeses têm uma peculiaridade curiosa: quando lhes é dito que a Holanda é um bom país para viver mas que se gosta mais do país X ou Y (habitualmente o país de origem, como é natural), eles estranham, como se fosse possível preferir outro país que não os Paraísos Baixos. Esta é uma característica que partilham (tal como muitas outras) com muitos estado-unidenses.

 

Analisando os factos esta perplexidade faz sentido. A Holanda (ou os EUA) tem uma qualidade de vida superior à da esmagadora maioria dos países do mundo, os salários permitem vidas relativamente tranquilas a quase toda a população, é comparativamente fácil obter emprego e, quando se está desempregado, há uma boa rede de suporte social. Os serviços públicos e privados funcionam bem e o país está bem estruturado. Os cuidados de saúde e a educação são de qualidade e o acesso a eles é simples. Porque não preferir este país aos outros?

 

Claro que a resposta é sempre simples: é difícil preferir qualquer país àquele onde crescemos simplesmente porque foi a este que nos habituámos. Conhecemos o temperamento das pessoas, por mais ilógico que seja. Sabemos como manobrar pelas vielas dos favores necessários a obter certos serviços mesmo quando não aprovamos tais atitudes. Aceitamos os ruídos, os cheiros e a desorganização mesmo quando não fazem sentido. Conhecêmo-los. Fazem-nos sentir em casa.

 

Notei-o pela primeira vez quando visitei uma amiga em Bruxelas, após dois anos na Holanda. A comparativa desorganização e sujidade da cidade, que a tornam mais desagradável que a cidade média holandesa, fez-me sentir em casa. Ainda hoje ao chegar ao aeroporto de Lisboa só me sinto de facto em casa quando saio porta fora da zona de chegadas e ouço as buzinas e sinto o cheiro a combustível que estão ausentes das assépticas cidades holandesas.

 

No fim de contas, a maior perplexidade não é tanto a holandesa ao saber que continuarei a preferir Portugal para viver. Antes é a minha, por não ver como é que os holandeses não compreendem (mesmo não partilhando) a minha preferência. E, nessa perplexidade, recebo parte das razões para a minha preferência.

5 comentários

Comentar post