Os comentários da semana
«Esse tipo de linguagem "coninhas" e "meriquinhas" sugere diminutivos de Cónios e Mericas.
É coisa tão ordinária quanto chamar Gaja em vez de Gaia, Puto em vez de Putto/Cupido, ou Puta em vez de Putta/Vénus. Coisas da Raia miúda que emalucou nas ilhas Malucas.
Hmmm... e a Maia?
Pois a Maja é foneticamente Macha, e também tem masculino, Macho, se quisermos em Maio.
Mas, para não ser mais ordinário, não falo de Machupichu, nem da mesma variação de Raia em Raja, Racha.
Pode-se dizer ainda que ginete é uma variação de cynete, em que o y seria um upsilon, ficando "cunete", que leva de novo aos Cónios. E Conistorga seria não em Coina, mas sim em Beja. Beja-se aqui tão perto e as Méricas lá do outro lado do mar, ou seria, à francesa, da mar?
Desculpa abardinar o post com ordinarices.»
Do nosso leitor da Maia. A propósito deste texto do JAA.
«Com este texto voltei aos meus verões. Verões passados na aldeia dos meus avós, Alcafozes, na Beira Baixa. Verões quentes e secos. Temperaturas escaldantes que hoje me custam aguentar, mas que à época o corpo franzino de um primário adolescente aguentava sem sequer reparar no calor. Os finais de tarde em que a minha avó, a única que me sobra nestes dias, regava o largo defronte da casa, o cheiro a terra molhada que só consigo associar a Alcafozes, esse cheiro intenso que absorvo cada vez que o sinto que me transporta anos e anos atrás, às memórias dos verões. As tardes passadas em cima da bicicleta, roda vinte e seis de ciclista, correrias pelas estradas desertas de alcatrão que derretia com o calor e usávamos para servir de travões na jante da bina, com primos e amigos que também eram primos, numa aldeia onde todas as famílias, de uma forma ou de outra, estão ligadas. O meu tio hoje velho e calado a levar-nos pelos campos de tractor até à “sorte” dos meus avós, onde estavam os porcos as galinhas os coelhos e por vezes umas ovelhas, o cão de guarda, arraçado de serra da estrela, que quando chegou a nós era uma bola de pelo, ficou o bolinhas, um bisonte de sessenta ou setenta quilos que era o bolinhas, saltava muros de dois metros para ir às cadelas. As noites quentes, imensas e dormidas muitas vezes no terraço a céu aberto, um céu só visto nas aldeias, com todas as estrelas a chamarem por mim, eu a querer saber os nomes e o meu pai a ensinar-me os nomes, a ursa maior e menor, a apontar ao céu, ali e ali, a estrada de São Tiago um caminho que para mim era só meu, pois se tinha até o meu nome, e adormecer assim. Tempos que não voltam, mesmo regressando “à terra” ano após ano para ver e ouvir a minha avó hoje sozinha que o homem dela, o meu avô, já partiu, esses verões ficaram onde afinal têm mesmo que ficar, ficaram dentro de mim, em mim.
Resta a saudade.»
Do nosso leitor Tiago Cabral. A proposito deste texto do JPT.