Os desafios de Obama
São hercúleos os desafios que esperam Obama: crise económica, reforma da saúde, problemas ambientais, controlo de armas, imigração, nova política energética – a nível interno. Instabilidade no Médio Oriente, relações difíceis com a Rússia e a China, a contenção do Irão – a nível internacional. Nada de muito diferente em relação a 2009, quando tomou posse pela primeira vez.
Hoje Obama tem todavia uma grande vantagem: por esta altura, ninguém espera, como no passado, que ele possa resolver todos aqueles problemas de uma só assentada. Obama tem diante de si uma agenda monumental, mas livre do messianismo que o perseguiu há quatro anos, pode agir recorrendo à “arte da política”, sem que a avaliação do seu desempenho esteja sistematicamente sujeita a uma comparação com o Rei Midas.
A nível interno, o maior desafio de Obama será lidar com a enorme bipolarização da política americana. O sistema político dos EUA assenta num sistema de “freios e contrapesos”, concebido para exigir permanentes lógicas de diálogo e construções de consensos entre os diversos agentes políticos. Todavia, os Pais Fundadores não contaram com as particularidades da modernidade, nomeadamente a radicalização ideológica e partidária, que têm minado o sistema e servido como autênticos mecanismos de bloqueio, impedindo os referidos consensos e a tomada de decisões políticas céleres e resolutas. Desde 2004 que Obama defende uma agenda bipartidária e a “reconciliação da América”, mas raramente tem promovido ambas. Com os Republicanos a controlarem a Câmara dos Representantes, as suas capacidades de negociação serão severamente postas à prova neste segundo mandato.
O maior desafio de Obama é contudo um outro, que assola aliás em geral o Ocidente: preservar a estrutura fundamental do “Estado Social”, num quadro económico e demográfico mundial que não permite aos países desenvolvidos manter os mesmos níveis de despesa pública até aqui praticados. Se a nível interno a resposta para esta autêntica quadratura do círculo não foi ainda encontrada, no que toca à política externa e à Defesa, as orientações estão definidas: reduzir os gastos nuns impressionantes 400 mil milhões de dólares, cortando na ajuda a países em desenvolvimento, reduzindo os efectivos militares em vários continentes, diminuindo as operações de vigilância, etc.
Estas orientações têm implicações severas em toda a organização externa norte-americana e por consequência nos alinhamentos estratégicos do poder mundial. Se em alguns casos elas são sobretudo simbólicas (a redução de bases militares na Europa, por exemplo), noutros significam uma efectiva retracção da influência norte-americana, que pode comprometer os seus interesses futuros em áreas estratégicas vitais (designadamente o Médio Oriente e a Ásia).
Obama tem insistido que o recurso ao “soft power” (diplomacia, fortalecimento das relações comerciais, cooperação com as instâncias internacionais), aliado a um posicionamento militar mais diminuto, mas cirúrgico, será suficiente para manter a influência americana intacta, mas só o tempo dirá se os EUA continuarão a ser “a nação indispensável”. Mais um desafio para o mais desafiado Presidente americano.