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Delito de Opinião

Diálogos inesquecíveis

Pedro Correia, 22.01.13

Há muito que não se registava um reencontro tão evidente entre o gosto maioritário dos telespectadores portugueses e uma produção de qualidade em sinal aberto, como agora sucedeu com Gabriela, produção brasileira da Globo retransmitida na SIC. Prova evidente de que não é necessário nenhum "acordo" pseudo-unificador para aproximar as diversas parcelas do mundo lusófono nem há que inventar qualquer varinha de condão em alternativa aos reality shows mais rasteiros para atrair público em televisão: basta investir na qualidade comprovada. Com um romance que foi êxito de vendas e de crítica a servir de base, um elenco meticulosamente escolhido, uma produção competente, uma irrepreensível direcção de actores. E, claro, um guião concebido por verdadeiros profissionais, que soube recuperar e valorizar os saborosíssimos diálogos saídos da pena de Jorge Amado que só confirmam o colorido, a riqueza vocabular e a grande plasticidade do nosso idioma.

Deixo aqui dois exemplos, que todos os que acompanharam Gabriela certamente lembrarão: vale a pena recordá-los, agora por escrito.

 

 

I

«Eu gosto de procriar é muito, seu padre»

Dona Olga, a fogosa mulher de Tonico Bastos, é ouvida em confissão pelo paciente Padre Cecílio:

- Seu padre, me perdoe, eu pequei.

- O que tanto a atormenta, Dona Olga?

- Seu padre, eu cumpro a penitência que o senhor quiser, mas não me faça contar...

- Eu não fico aqui distribuindo penitência, Dona Olga. Eu tenho por obrigação fazer os fiéis trilharem o bom caminho... Que pecado tão nefando a senhora cometeu?

- Eu tenho vontade... Ai!

- Coragem, minha filha, aos olhos de Deus todo pecado tem perdão.

- ... Eu tenho vontade de morder a bunda de meu marido.

- Deus me livre!

- Eu resisto é muito! Mas uma bunda tão redondinha, seu padre...

- Olhe a compostura, por Deus!! O acto conjugal não pode ser libidinoso! A Igreja determina que o marido deite mais a esposa apenas para procriação.

- Eu sei. Eu gosto de procriar é muito, seu padre. Não tenho mais filhos é porque Deus não mos enviou... e talvez porque eu dei uma lavadinha.

- Lavadinha, Dona Olga?! Que lavadinha?

- É, é. Água e sabão... nas partes. Sempre que Tonico me usa... Senhor padre, a Igreja proíbe a lavadinha?

- Preciso consultar o bispo. Quanto a esse desejo de morder a... o traseiro de seu marido, é proibidíssimo. Reze três terços na intenção de sua alma.

- Três terços só por desejar?! Não podem ser dois?

- Desejar não é pouco. Mas a senhora se arrependeu... Bem, vá lá: dois terços pelo desejo.

- Então ficamos assim. Dois terços só por desejar e quatro terços se morder.

 

II

 «Além de minha macheza natural, tomo uma gemada»

O professor Josué anda envolvido com Glorinha, a fogosa "teúda e manteúda" do coronel Coriolano - novidade que este ainda desconhece. Conversam ambos à mesa do bar Vesúvio.

O primeiro a falar é o coronel, muito mais velho do que o seu interlocutor:

- Que é que o senhor tem para me dizer que é tão importante?

- Eu admiro a sua disposição. Assim, nessa idade, o senhor dá conta de Glória que, com todo o respeito, é um peixão.

- Sem dúvida. Eu só dou conta por causa de minha macheza!

- Coronel, eu quero saber o teu segredo.

- Segredo?

- P'ra ser tão macho. O senhor toma alguma coisa? O senhor sabe... tenho chamego com uma mulher comprometida...

- É gulosa?

- Gulosa de mais.

- Deve ser igual a Glorinha. Glorinha é muito gulosa...

- Sem dúvida.

- Quê?!

- Eu imagino. Porque uma mulher assim, na flor da idade, há-de ser gulosa... Coronel, o senhor toma algum preparado?

- Só porque eu lhe tenho simpatia, eu vou lhe contar o meu segredo: além de minha macheza natural, eu costumo tomar todas as noites uma gemada bem forte com ovo, açúcar, canela e um dedão assim de conhaque... O senhor toma isso, o senhor vai ver: sua coisa aí vai subir que nem um rojão!

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