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Delito de Opinião

Amigos, amigos, ensinos à parte

Laura Ramos, 03.01.13

Tenho filhos crescidos. Senão, arranjaria a maneira de retomar uma pequena luta e empenhar-me-ia em contaminar os decisores (pais e professores) para as evidências demonstrativas que movem a European Association Single Sex Education (EASSE).
É verdade. Confesso que exulto quando vejo confirmados, de maneira autorizada, os juízos que a experiência me fez construir acerca das desvantagens do ensino misto, passada que está a era da desigualdade de oportunidades educativas e do apartheid social que levava a separar meninos e meninas, por causa do temor de enrolanço fulminante entre as partes ou dos funestos efeitos do seu livre convívio na paz das famílias e das paróquias em geral.
O assunto é interessante. Mas nunca alimentei qualquer disposição apriorística para ele até aos dias em que tive de assumir o papel de mãe-educadora, vagamente a contra gosto (mas alguma vez os meus ascendentes meteram o nariz na minha vida escolar? Tempos idos.)

Digo-vos que era um título difícil: aguentar aquelas reuniões de pais, ouvir os longos discursos circulares dos progenitores carenciados de tempo de antena, radiantes por encontrar uma plateia caída dos céus. Ou, pior ainda, suportar a apologética estafada, óbvia e tantas vezes medíocre dos directores de escola, sentindo que confundiam claramente a prática com a prédica, o sujeito com o objecto, a realidade com a ficção.

A maior parte das vezes calei-me: “piquei o ponto” para não prejudicar a prole por delito de ausência; bichanei com alguns outros sofredores cépticos e afins; e saí irritada com a perda do meu precioso tempo.
Depois, quando em casa cumpria o meu papel e me empenhava em levar os filhos pelos trilhos certos (os seus e muito seus próprios trilhos), esbarrava nas provas constantes de um ensino desajustado do intelecto masculino e de uma avaliação voltada para parâmetros monocórdicos, sem imaginação, eivados de vícios. Errados, já não tinha dúvidas.

Salvo honrosas excepções, lembrarei sempre aquela força magnética negativa dos gabinetes dos directores de escola, ou de turma, convertidos em cenário de encontros difíceis entre mães ou pais dos rapazes - é claro, muito dotados mas sempre ao contrário da batuta -a contrastar com a paz celestial das breves reuniões - toantes e consoanantes - dos abençoados progenitores das meninas...

Afinal tínhamos razão.

Longa vida à EASSE.

5 comentários

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    Laura Ramos 04.01.2013

    eh eh, Isabel :) Nem sei bem a que se refere, mas se for ao meu manifesto sobre o prejuízo que os rapazes sofrem no modelo misto, penso que as causas não são maquiavélicas, nem há uma conspiração concertada contra eles. Tudo isto tem motivos vários e acumulados, acho eu: massificação do ensino; fortíssima representação feminina no exército docente, aí a partir dos anos 60; idêntico desequilíbrio no corpo discente (não é sequer 50-50, as mulheres são cada vez em maior número... será porque nascem mais...ou porque eles desistem?). A impotência disciplinar nas escolas faz valorizar algum 'ordeirismo' mais natural das mulheres, etc...
    Quanto ao ponto 2, acho que a questão de deve ao desaparecimento da velha escola sólida e com autoridade própria, confiável e organizada, que dispensava a permanente convocação dos pais, como agora acontece. Deixava-se que os professores trabalhassem e fizessem o seu papel e, em casa, os papás e mamãs educavam os seus filhos... :)
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    IsabelPS 04.01.2013

    Não, não, nascem sempre mais rapazes do que raparigas. Mas como são mais "frágeis", a partir de uma certa altura "sobram" mais mulheres do que homens. Não sei exactamente quando é que se dá a inversão, mas penso que não será antes da adolescência.

    Eu percebo que, neste momento, há muito mais professoras do que professores e que, naturalmente, o sistema selecciona no sentido das mulheres (a tendência é para seleccionar"iguais a nós"). Mas antes disso acontecer, a pressão da selecção era no sentido inverso, não é? Portanto essas inversões podem dar-se, mas como?

    Ainda hei-de perguntar aos meus irmãos se alguma vez estudaram com os filhos. Duvido muito. Cada macaco em seu galho!
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    Laura Ramos 05.01.2013

    Tenho a impressão de que o antes não era bem o inverso. Ou era o puro sistema primário de 'blackout' às mulheres. Ou depois, pouco a pouco, a coisa foi ficando equilibrada, porque as mulheres foram acedendo às universidades e povoavam sobretudo as licenciaturas profissionalizantes ligadas à educação. Destino maioritário: professoras.
    A inversão aconteceu mais tarde, nas últimas décadas do séc. XX. A democratização/massificação, os 'numera clausa' e a exigência da média para acesso ao ensino superior, mas obtida na mesma idade... (e quanta diferença naquelas cabeças, não numa relação de melhor e pior, mas de não semelhança!)
    Pergunte aos seus irmãos mas, por norma, as mães são quem se preocupa e quem acompanha, metendo as mãos na massa (embora a minha não me tenha ligado a mínima :)

    (Ah, os rapazes morrem muito mais à nascença e nos primeiros anos de vida. Mesmo com uma taxa de mortalidade neonatal muito baixa, eles aguentam-se menos: aprendi essa na maternidade.... a sério. De fontes autorizadas).
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    IsabelPS 05.01.2013

    Sim, os rapazes morrem mais à nascença e depois, e há mais abortos espontâneos de fetos masculinos (aliás, há várias doenças genéticas que só, ou quase só, atingem os rapazes). Mas ainda assim nascem mais rapazes do que raparigas.
    Estes números são de 2005, mas dá para ver que, até aos 15 anos pelo menos, continua a haver mais rapazes do que raparigas:
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia_de_Portugal#Propor.C3.A7.C3.A3o_sexual
    Enfim, minudências...
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