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Delito de Opinião

A mensagem de nadal

Rui Rocha, 26.12.12

Era impossível que Passos Coelho saísse ileso do episódio da mensagem de Natal. Estando em causa uma tradição, não podia escusar-se a cumpri-la. Nas actuais circunstâncias, a ausência de mensagem daria lugar a todo o tipo de interpretações negativas. Mas, se isto é assim, também é verdade que qualquer das alternativas seria sempre uma forma de escapar ao lume para cair na frigideira. Vejamos. Em época de Natal, ninguém toleraria um discurso estruturado sobre sacrifícios, cortes e austeridade. O Natal é, por definição, um momento de trégua. Ninguém no seu perfeito juízo abriria a porta de sua casa no dia 25 de Dezembro a alguém que viesse com a única intenção de transmitir más notícias. Ora, se era de más notícias que Passos Coelho não podia falar, dadas as circunstâncias, o certo é que só isso é que ele tinha (tem) para dizer. Como se viu nas últimas semanas e como se confirmará nas próximas, quando se forem consolidando os contornos do corte de quatro mil milhões de euros que se anuncia. E o que mais se verá. Restava-lhe, assim, o discurso da vacuidade, ancorado, à falta de melhor, numa ideia difusa e longínqua de equidade na distribuição dos sacrifícios e de futuras oportunidades. É claro que este é um discurso que nada adianta e em nada se traduz. Apesar disso, de nada servindo, não deixa de constituir um empecilho adicional a Passos Coelho. O quase nada que prometeu não deixará de ser muito, e muito contraditório, quando, daqui por uns dias, os portugueses embaterem com o que os espera em 2013. Ver-se-á então que o tudo-nada de esperança que Passos Coelho se sentiu obrigado a transmitir mais não constituiu do que um penoso número de ilusionismo e que o primeiro-ministro não tem, literalmente, nada na manga.

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