Um sintoma.
Este caso é um sintoma do estado do nosso país. Quando nos anos 60 Portugal travava uma guerra colonial sem sentido, o regime dizia que não tínhamos outra alternativa e que o mundo acabaria por nos dar razão. O mundo, porém, deixava-nos completamente isolados. Precisamente por isso quando houve uns pândegos que se resolveram mascarar de sheiks árabes em visita ao país foram recebidos pelas mais altas instâncias nacionais e objecto de grande cobertura mediática. Depois o país descobriu estupefacto que tudo não passava de uma brincadeira e que os verdadeiros árabes não nos ligavam absolutamente nenhuma.
Hoje o país trava igualmente uma guerra perdida, sendo que os resultados do combate ao défice que são anunciados correspondem a derrotas sucessivas. Mas mesmo assim o Governo prossegue inabalável até ao colapso final. O país sonhava por isso que aparecesse alguém com credibilidade internacional a chamar a atenção do Governo para os riscos em que estava a colocar o país e o sofrimento que causava às pessoas. E nestes casos há sempre alguém disposto a aproveitar a oportunidade, bastando invocar uma qualquer pertença internacional, que os indígenas acolhem-no veneradamente. Para isso as Nações Unidas eram o organismo ideal. Assim, se alguém aparecesse a dizer que vinha da ONU a avisar da preocupação do organismo com o estado do país, naturalmente que teria tempo de antena e exigir-se-ia que o Governo o ouvisse. E se ele dissesse que tinha uma tropa de capacetes azuis pronta a invadir Portugal para pôr o Governo na ordem, continuariam a dar-lhe o mesmo crédito.
Como nos anos 60, o país acaba assim a descobrir que as Nações Unidas também não ligam nada a Portugal e que o país vai afundar-se completamente sozinho. O que é grave é que esta credulidade é um péssimo sintoma do actual estado dos portugueses.