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Delito de Opinião

Minable, vous avez dit "minable"?

Luís Menezes Leitão, 23.12.12

 

Ao contrário do que se pretende sustentar neste artigo, não me parece que o caso Depardieu seja pretexto para uma maior harmonização fiscal europeia. Nesta época de crise económica, é evidente que os Estados europeus não vão abdicar de ter uma política fiscal própria, depois de terem perdido a sua política monetária. O que o caso Depardieu demonstra é que, numa Europa integrada, os Estados  passam a ter que ser competitivos também na sua política fiscal, já que se lançarem impostos exagerados, correm o risco de que os grandes contribuintes procurem outras paragens. E insultar esses contribuintes ou fazer declarações patéticas sobre a grandeza do país a que todos devem ter honra de pertencer nada resolverá. A carta aberta que Depardieu escreveu a Ayrault ficará na história como a reacção de um grande francês a uma tributação confiscatória e a um inacreditável insulto. "Minable, vous avez dit "minable"? Comme c’est minable."


Se a França tributasse Depardieu a uma taxa na ordem dos 40% ficaria seguramente com 40% dos milhões que ele ganha. Ao subir essa taxa para 75% verá todo esse dinheiro ir para outras paragens. A ganância nunca foi boa conselheira e a ganância fiscal ainda o é menos. E, como se vê, há muitos países que recebem de bom grado o Sr. Depardieu. Até Putin lhe ofereceu um passaporte. Já as irritações do Governo francês nada podem contra esta frase lapidar com que Depardieu termina a sua carta: "Qui êtes-vous pour me juger ainsi, je vous le demande monsieur Ayrault, Premier ministre de monsieur Hollande, je vous le demande, qui êtes-vous? Malgré mes excès, mon appétit et mon amour de la vie, je suis un être libre, Monsieur, et je vais rester poli". Só é pena que os cidadãos comuns, quer em França, quer em Portugal não tenham a mesma liberdade do Sr. Depardieu, e tenham que sofrer na pele estas tributações confiscatórias. E ainda por cima pela mão de partidos que se diziam liberais e defensores dos contribuintes.

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