Nada se passa enquanto nada se passar
Kamrooz Aram, "O fulgor do primeiro raio do dia"
De modo que o mundo pode muito bem ter acabado ontem sem darmos por isso. Não era a primeira vez que acontecia. Por exemplo, daqui a quatro dias vamos celebrar o nascimento fictício de um bastardo judeu, num dos piores momentos políticos da história hebraica, com a terra prometida ocupada por um enfastiado império de Roma e quem diria, então e durante um bom para de séculos seguintes, o que estava prometido para aquela criança que pelos vistos nem um burro ou uma vaca teve para agasalhá-la? E já agora quem diria que os romanos, e por acréscimo os latinos, não iriam predominar para todo o sempre?
Quem diria também que se fosse preciso escolher uma data para marcar o ocaso da Europa ela bem poderia ser 30 de Janeiro de 1933? E que ainda hoje, tantos anos passados, há quem acredite – porque é uma crença – nas promessas do nosso futuro? Afinal, não vimos todos do futuro, como diria ajuizadamente Eduardo Lourenço, desse futuro projetado para onde caminhamos agora?
Cá por mim nada mudou e de nada sinto falta, mas não será isso prova cabal que o mundo acabou mesmo à revelia da minha compreensão?
Lá ao fundo as luzes continuam ligadas de noite, devem ser automáticas.