The show must go on
Há qualquer coisa de necrófago e pornográfico na forma como os media filam uma tragédia e a descascam até ao tutano, fazendo-a render o mais possível sem qualquer pejo ou hesitação. Não o fazem pelo desejável brio profissional de revelar a verdade, mas para manter altas as audiências, numa concorrência desenfreada que os faz perder completamente as mais básicas noções de decência e de respeito pela privacidade. O osso só é largado quando outra qualquer desgraça, maior, mais sangrenta ou mais escandalosa, se perfila no horizonte.
Agora, descobriram um pai que se despediu em português da filha pequena morta na carnificina da escola americana, e esse facto irrelevante parece ter-se tornado importantíssimo em todos os telejornais, como se fosse uma espécie de deferência especial para com Portugal. E como se o horror anónimo, em qualquer língua, não fosse já suficientemente insuportável.