a crise
A crise é viajar pela cidade de Lisboa e ver cartazes a dizer: arrenda-se, vende-se, trespasse. A crise é ver o número de sem abrigos na Gare do Oriente a crescer. A crise é uma chamada para os bombeiros quando um velho só quer dois dedos de conversa. A crise é não saber como explicar que sim, são restos outra vez. A crise é ver o fundo do armário. A crise é ver os computadores vazios de coisas.
O melhor da crise é puxar pela imaginação, rir na cara da crise como quem ri na cara de alguém que desprezamos e sabemos ser má pessoa. O melhor da crise é a oportunidade de fechar uma porta e abrir uma janela. O melhor da crise é, finalmente, ver como algumas pessoas têm de cair na real. O melhor da crise é saber dar a volta.