Estranhos lugares # 6
O inesperado vazio será talvez o lugar mais estranho de todos.
Ao largo da Nova Caledónia levanta-se do mar a Île de Sable, ou Sandy Island, localizada em todos os mapas fiáveis ao nosso dispôr. Cartas náuticas dos Serviço Hidrográfico da Austrália, fotos de satélite e, para os leigos, Google Maps e Google Earth, onde consta como uma mancha negra, todos afiançam a presença de uma massa de terra, grosso modo com a dimensão e a forma de Manhattan. Se não acreditamos nos mapas como nos havemos de orientar? Leia-se o fabuloso “Longitude” de Dava Sobel, para se ter a medida do épico que foi a procura de um meio viável e credível de se determinar a longitude e da extrema necessidade que tinha a navegação marítima dessa coordenada.
Rumo a Sandy Island por um dia de sol, assim se fez ao mar uma expedição da Universidade de Sidney. Todavia, chegado o navio ao local onde seria suposto largar ferro, não só tudo era mar em volta como o sonar dava o leito oceânico a 1400 metros de profundidade – onde diabo se havia metido a ilha? 1400m é um precipício suficiente para assegurar duas coisas: que não se tratava de um daqueles recifes recorrentemente engolidos pelo mar e que só uma catástrofe monumental poderia ter arrancado pela raiz um pedaço de terra daquele tamanho. A única conclusão lógica é que a ilha nunca existira.
Os mapas estavam errados? Estavam, todos. Como foi possível? É isso que está alvoroçadamente em discussão na comunidade geográfica desde há dois dias - ver aqui, aqui e aqui. Neste site publica-se uma extensa e magnífica coleção de mapas e cartas sobre a região de Sandy Island que acentua a estupefação.
Pode-se tirar provisoriamente desta bizarra anti-descoberta uma ilação filosófica: o erro é um vírus terrível, que se reproduz por inércia e quanto mais gerações tem, mais difícil é detectá-lo.
Isto até parece uma alegoria se a quisermos aplicar a certas obstinações auto-fundamentadas que têm feito a vida negra a Portugal, as quais, tanto mais reincidem quanto mais os seus resultados se afastam do objectivo.
Estupidez? Não, apenas uma natural fragilidade humana - toda a atenção é pouca.
- obrigado leitor/comentador lucklucky por ter oferecido esta história