Blind date
Eu ainda tentei a via filosófica, Eugénia, juro que tentei. Fiel ao meu Caeiro, temperei-o de uns pózinhos cartesianos, na esperança de um silogismo redentor que explicasse o Amor. Penso, logo existo. Amo, logo não penso. Mas... e a terceira premissa? Ó diacho, a coisa não me correu bem. Enfim, antes que a conclusão me encurralasse na humilhante escolha entre amar e existir, desisti da armadilha da lógica e decidi-me pela poesia. É mais segura. E, já que foi o Vinicius o inspirador desta odisseia, o soneto pareceu-me um bom berço para aconchegar as palavras do Amor. Aqui fica o meu contributo para tão espinhosa tarefa:
BLIND DATE
Traz na lapela do sorriso um beijo
para que a minha pele te reconheça
E deixa que esvoace algum desejo
sobre o teu ombro, como uma promessa
Não faças nada do que combinámos
que eu quero descobrir-te lentamente
num jogo sem passado nem presente
futuro apenas, tal como o sonhámos
Liberta-te de amarras e feitiços
Abre, por hoje, as asas de condor
Farei o mesmo. Seremos noviços
em claustros de silêncio e de esplendor
Filhos de um deus que acolhe os insubmissos
virgens de medos e de toda a dor
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Nota: Os meus convites ficam em casa e são mais do que dois:
gente delituosa, quem quer pegar neste desafio?