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Delito de Opinião

Blind date

Ana Vidal, 22.11.12

 

Eu ainda tentei a via filosófica, Eugénia, juro que tentei. Fiel ao meu Caeiro, temperei-o de uns pózinhos cartesianos, na esperança de um silogismo redentor que explicasse o Amor. Penso, logo existo. Amo, logo não penso. Mas... e a terceira premissa? Ó diacho, a coisa não me correu bem. Enfim, antes que a conclusão me encurralasse na humilhante escolha entre amar e existir, desisti da armadilha da lógica e decidi-me pela poesia. É mais segura. E, já que foi o Vinicius o inspirador desta odisseia, o soneto pareceu-me um bom berço para aconchegar as palavras do Amor. Aqui fica o meu contributo para tão espinhosa tarefa:

 

BLIND DATE

 

Traz na lapela do sorriso um beijo

para que a minha pele te reconheça

E deixa que esvoace algum desejo

sobre o teu ombro, como uma promessa

 

Não faças nada do que combinámos

que eu quero descobrir-te lentamente

num jogo sem passado nem presente

futuro apenas, tal como o sonhámos

 

Liberta-te de amarras e feitiços

Abre, por hoje, as asas de condor

Farei o mesmo. Seremos noviços

 

em claustros de silêncio e de esplendor

Filhos de um deus que acolhe os insubmissos

virgens de medos e de toda a dor

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Nota: Os meus convites ficam em casa e são mais do que dois:

gente delituosa, quem quer pegar neste desafio?

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