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Delito de Opinião

Obama: mais quatro anos

Pedro Correia, 07.11.12

 

«Aos outros povos e governos que nos estão a ver hoje, das grandes capitais à pequena aldeia onde o meu pai nasceu: saibam que a América é amiga de todas as nações e de todos os homens, mulheres e crianças que procuram um futuro de paz e dignidade, e que estamos prontos para liderar mais uma vez. Recordem que as primeiras gerações enfrentaram o fascismo e o comunismo não só com mísseis e tanques mas com alianças sólidas e convicções fortes. Compreenderam que só o nosso poder não nos protege nem nos permite agir como mais nos agradar. Pelo contrário, sabiam que o nosso poder aumenta com o seu uso prudente; a nossa segurança emana da justeza da nossa causa, da força do nosso exemplo, das qualidades moderadas de humildade e contenção.»

Barack Obama, Janeiro de 2009

 

Os rituais são indispensáveis em todas as sociedades, em todas as democracias. Acabamos de ver o ritual da saída de um presidente dos Estados Unidos da América, que abandona o poder no prazo previsto pelo sistema constitucional do país, e da chegada do seu sucessor - o filho de um negro nascido numa humilde aldeia do Quénia que personifica hoje, melhor do que qualquer outra pessoa, a materialização do sonho americano.

Apreciei o discurso de investidura de Barack Obama: dirigiu umas frases de cortesia ao seu antecessor e de imediato deixou palavras inspiradoras para a impressionante multidão que o escutava em Washington. Barack Obama, o 44º presidente norte-americano, parece o homem certo para liderar os Estados Unidos nesta encruzilhada da história, no termo de uma crise com várias faces: durante a administração Bush, a maior potência do globo mergulhou numa crise financeira, mas também numa crise de confiança e numa crise de autoridade moral.

Obama chega à presidência com o país envolvido em duas guerras sem fim à vista, com a imagem manchada por inadmissíveis violações de direitos humanos e o maior défice das contas públicas de que há memória, além da latente ameaça terrorista. Um dos mais jovens inquilinos da Casa Branca de todos os tempos, é ele a pessoa ideal para inspirar e mobilizar as jovens gerações. Primeiro chefe do Executivo com ascendência africana, ninguém melhor do que ele poderá servir de traço de união entre as diversas comunidades do espantoso mosaico de raças, etnias, crenças e culturas que compõem os Estados Unidos da América.

Todos os olhos do mundo se viram agora para este homem. As expectativas são, porventura, excessivamente elevadas: ninguém consegue aguentar o peso de tanta responsabilidade em cima dos ombros. Mas o momento é de celebração: cumpre-se mais um ritual desta sólida democracia que tantos homens de génio tem dado ao mundo. Obama na presidência é o exemplo vivo da materialização do sonho americano. Ele tudo fará, sem dúvida, para que o sonho jamais se transforme em pesadelo.

 

Reedição do texto que publiquei aqui, sob o título "Obama: o sonho americano". Na noite em que o inquilino da Casa Branca vence a corrida presidencial pela segunda vez, derrotando o republicano Mitt Romney

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