A lição de Van Gogh
Uma das coisas que aprendi nos meus primeiros tempos de jornalista foi que devia sempre desconfiar da verdade, mesmo quando ela parecia evidente. Não é que isso fosse novidade para mim. Sempre fui céptico em relação à verdade e sempre tentei testá-la. Por mais evidente que uma coisa me parecesse, procurava encontrar outra explicação que me parecesse menos evidente. Creio que essa postura se deve ao facto de ter começado, muito miúdo, a ler os grandes mestres dos livros policiais.
Quando escrevo nos blogues não estou preocupado com as regras do jornalismo, como é óbvio, mas de vez em quando procuro analisar determinados assuntos pela perspectiva menos consensual. Como fiz ontem, neste post.
Nem de propósito, hoje leio no DN uma notícia sobre Van Gogh que demonstra que as verdades absolutas podem não ser assim tão definitivas.
Sempre me fez alguma espécie que Van Gogh – mesmo a caminho da loucura - se tivesse auto-mutilado e fosse entregar a sua orelha a uma prostituta. Com que propósito o faria?
Em 2005, numa visita ao Museu Van Gogh, em Amsterdam, confidenciei a quem me acompanhava que aquilo me parecia mais uma cena de romance do que um episódio da vida real. Ouvi severas críticas que se prolongaram no regresso a Portugal, em círculo de amigos. Um dia, farto de ser instigado a apresentar uma hipótese alternativa, respondi sem convicção, mas aliviado:
“Olhem, se querem que vos diga, penso que aquilo foi dor de corno!”
Hoje,ao ler o DN, suspirei de alívio. Afinal, foi Gauguin a fazer o servicinho.