Agustina
Poucos escritores se bastam com o nome próprio, privilégio de quem se senta à nossa mesa nos Domingos que não são de festa. Sabemos que alguém é da casa quando o nome se antecipa a tudo o resto. Vem aí a Agustina. Estou a ler Agustina. Agustina é da nossa casa, portuguesa porque o seu (fora de) tempo é demasiado português para ressoar devidamente em casas estrangeiras. E se digo Agustina, e não a obra de Agustina, é porque sei, e ela também, que muitos dos que a admiram confessadamente nunca lhe leram uma linha. Bastava ouvi-la, travessa arguta desconcertante fulminante, para a sentirmos nossa. Agustina, como o tempo no fado da Argentina Santos, fica, ficará sempre, enquanto nós nos contentamos com estar de passagem.
Comecei a lê-la na faculdade, com a Sibila, e nunca mais parei, até à Ronda da Noite, com paragens pelas bermas, sempre sem saber porquê. Talvez porque haja ali um qualquer (fora de) tempo em que encontro uma ordem para o que sinto. E há sempre um riso, não muito óbvio, que se ouve enquanto nos deixamos levar pelos aforismos ou no momento em que uma personagem – são sempre as personagens, nunca os seus actos ou factos – nos passa a comandar, que me comove e desafia. E não sei resistir ao riso, nunca soube.
Parabéns, Agustina.