Açores: dez apontamentos eleitorais
1. Vitória eleitoral categórica do PS nas eleições regionais dos Açores, revalidando a maioria absoluta. Um triunfo pessoal do candidato socialista, Vasco Cordeiro, que assumirá a liderança do Executivo em Ponta Delgada, e também do secretário-geral do PS, António José Seguro, que participou activamente na campanha.
2. Esta foi a primeira vitória de Seguro desde que assumiu o comando dos socialistas a nível nacional. Cumpriu-se um dos melhores cenários eleitorais para o secretário-geral do PS, que assim robustece a sua liderança face às movimentações de possíveis rivais internos. Também por esse motivo esta era uma eleição que Seguro precisava mesmo de ganhar.
3. O resultado de hoje nos Açores constitui igualmente um tributo popular ao mandato do socialista Carlos César, que abandona o poder voluntariamente após 16 anos como presidente do Governo Regional. Esta vitória também lhe pertence pois constitui uma espécie de referendo ao seu desempenho governativo. Fazendo instalar a ideia, simétrica à da Madeira com maioria PSD desde 1976, de que nos Açores é normal que vençam os socialistas.
4. Berta Cabral, a candidata social-democrata, sofre uma pesada derrota. De nada lhe valeu, na recta final da campanha, demarcar-se do Governo de Lisboa fazendo comparações deselegantes com Passos Coelho e chegando a anunciar o voto contra dos deputados açorianos na Assembleia da República contra o Orçamento do Estado ainda sem conhecer o documento.
5. De nada serviu também ao CDS regional o discurso contra a coligação nacional de que faz parte. O partido sofre um recuo eleitoral e vê defraudada a expectativa de ascender ao Governo Regional como parceiro menor dos socialistas.
6. Passos Coelho não participou na campanha, ao contrário do que sucedeu com Paulo Portas, mas esta derrota também deve ser-lhe creditada. Foi a primeira que sofreu desde que assumiu a liderança dos sociais-democratas a nível nacional.
7. As campainhas de alarme terão de soar no PSD: o escrutínio açoriano, claramente influenciado por factores nacionais, indicia resultados tão maus ou piores para o partido nas autárquicas do próximo ano. Passos Coelho assumiu dignamente a derrota mas deve apressar-se a tirar conclusões deste expressivo voto de protesto dos eleitores açorianos.
8. Estranhamente, Berta Cabral não anunciou de imediato a demissão do cargo de presidente do PSD-Açores e a convocação de um congresso extraordinário. Devia tê-lo feito.
9. Carlos Cesar deu um notável exemplo de desprendimento do poder: podia ter-se recandidatado a um novo mandato de quatro anos, mas preferiu encerrar o seu ciclo de intervenção política directa nos Açores. Uma atitude que há muito devia ter sido adoptada na Madeira por Alberto João Jardim.
10. Vale a pena tomar nota: ainda haveremos de ouvir falar muito de César. Desta vez a nível nacional.