Açores: cinco cenários para Seguro
Nunca umas eleições regionais nos Açores tiveram tanta importância a nível nacional, como se verá.
Na perspectiva de António José Seguro, deste escrutínio poderão decorrer cinco cenários - do óptimo ao péssimo.
Cenário óptimo. O candidato socialista açoriano, Vasco Cordeiro, vence as regionais mas sem maioria absoluta - o que o levará a formar um governo de coligação com o CDS no arquipélago. Situação ideal para o líder do PS por dois motivos: esta coligação teria um potencial de fractura entre os dois partidos que formam governo a nível nacional e poderia servir de balão de ensaio para um futuro Executivo em Lisboa entre socialistas e democratas-cristãos. Este seria também o cenário perfeito para o partido liderado por Paulo Portas, que se confirmaria como força política charneira do regime, ampliando ainda mais a sua capacidade negocial: coligada com o PSD em Lisboa e com o PS em Ponta Delgada.
Cenário bom. Vasco Cordeiro triunfa nas urnas, com maioria absoluta. Primeira vitória que Seguro poderá reclamar, enquanto líder do PS, depois de ter perdido as regionais de 2011 na Madeira, onde viu o seu partido ser ultrapassado pelo CDS como segunda força política. Esta vitória funcionaria no entanto, essencialmente, como um plebiscito aos 16 anos do mandato insular de Carlos César, impulsionando a sua carreira futura, desta vez a nível nacional.
Cenário ambíguo. O PS revalida a maioria nas urnas mas recuando eleitoralmente, vendo crescer as forças à sua esquerda e não lhe bastando somar deputados aos do CDS para garantir apoio maioritário na Assembleia Legislativa Regional. Teria assim que estabelecer um acordo político com o PSD, espécie de reedição de um bloco central à escala açoriana, aliás já admitido pela líder do PSD-Açores, o que enfraqueceria necessariamente o vigor da sua oposição aos sociais-democratas a nível nacional.
Cenário mau. O mesmo cenário, mas com posições invertidas: vitória tangencial do PSD, o que levaria a social-democrata Berta Cabral - que conduziu o essencial da sua campanha nas regionais a demarcar-se de Pedro Passos Coelho, ao ponto de anunciar que os deputados do PSD-Açores em Lisboa votariam por determinação dela contra o Orçamento do Estado ainda sem este documento ser conhecido - a formar um bloco central nos Açores. O PS seria desgraduado: em vez de um presidente do Governo Regional, teria apenas um vice-presidente.
Cenário péssimo. O PS perde esta eleição, mas sem possibilidade de ascender ao Governo. Seria a segunda derrota consecutiva de Seguro (após a da Madeira), o que levaria os seus adversários internos a acelerar as movimentações para uma mudança de ciclo no partido a nível nacional. Líderes alternativos não faltam - e estão em boa forma, como demonstraram Francisco Assis na sua intervenção parlamentar em nome do PS no recente debate das moções de censura ao Governo e António Costa, intervindo mais como protagonista político de primeiro plano do que como presidente da câmara de Lisboa nas cerimónias do 5 de Outubro. Falta apenas um bom pretexto para qualquer deles avançar.
Esta é, portanto, uma eleição que António José Seguro precisa de ganhar. Mais do que qualquer outra, mais do que qualquer outro.