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Delito de Opinião

O filme que nunca existiu

Pedro Correia, 05.10.12

Nem o segundo homem mais poderoso do planeta impôs a sua vontade à Mafia nos estúdios de Hollywood. A história aconteceu em 1962, quando Robert Kennedy – irmão do presidente John F. Kennedy e procurador-geral dos EUA – quis levar ao cinema o seu livro The Enemy Within, lançado dois anos antes, em que relatou o combate que empreendeu no Senado contra o crime organizado e a forma como a Mafia se infiltrava na sociedade americana.
Robert contactou o produtor Jerry Wald, um dos nomes mais influentes nos estúdios cinematográficos, responsável por grandes sucessos de bilheteira como Paixões em Fúria (1948) e Até à Eternidade (1953). Entusiasmado com o projecto, a 2 de Julho Wald informou-o que conseguira o melhor argumentista para o filme: Budd Schulberg, galardoado em 1955 com o Óscar pelo argumento de Há Lodo no Cais. Schulberg lera The Enemy Within e ficara com a noção de que “algo no âmago da sociedade americana começava a apodrecer”: o cinema era sem dúvida o melhor veículo dessa denúncia.
Paul Newman chegou a ser sondado para o papel de Robert Kennedy no filme. Mas, 11 dias após ter contactado o procurador-geral, Wald morreu subitamente, aos 49 anos, na sua casa de Beverly Hills. E Robert Kennedy nunca conseguiu levar por diante o seu projecto. As pressões da Mafia sobre os estúdios cinematográficos eram enormes, revela David Talbot no livro Irmãos – A História Oculta dos Anos Kennedy.
Schulberg ainda tentou assumir a produção, obtendo para o efeito o acordo da 20th Century Fox. Mas os responsáveis deste estúdio “receberam ameaças de morte”, revela Talbot, um jornalista de investigação. Newman também se desinteressou do projecto: The Enemy Within abortou quase à nascença.
“Shulberg era um príncipe de Hollywood, filho do gigante do cinema B. P. Schulberg. Bobby Kennedy era o segundo homem mais poderoso do país. Mas os dois juntos não conseguiram que se fizesse o filme devido à oposição descarada do crime organizado. Foi uma espantosa lição sobre os mecanismos obscuros do poder americano”, conclui o autor.

Já passou meio século. Mas esta história ainda dá que pensar.

 

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