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Delito de Opinião

Oito anos de Bush: um balanço

José Gomes André, 16.01.09

 

  

Costuma dizer-se que só a história julgará devidamente os feitos de uma Presidência. Mas neste caso é fácil anteciparmo-nos, pois a Administração Bush foi uma das mais incompetentes das últimas décadas. Concedo que houve alguns aspectos positivos: o sucesso na segurança interna pós-11 de Setembro; o reforço das trocas comerciais e das relações políticas com o Sudeste Asiático e diversos países africanos; a relativa estabilização do Iraque nos últimos meses.

 
É muito pouco quando comparado com os disparates acumulados em oito anos. Uma invasão despropositada de um país soberano, alicerçada num absurdo e perigosíssimo conceito estratégico (“a guerra preventiva”). Como se isto não bastasse, a Administração foi incapaz de traçar um plano pós-intervenção militar, o que provocou um caos político e social que só agora começa a normalizar. Uma intervenção falhada no Afeganistão, país entregue a traficantes de drogas, “senhores da guerra” e minada de focos de instabilidade permanente. Inabilidade para criar laços de cooperação com a esmagadora maioria dos países europeus, para já não falar da América Latina. Erros sistemáticos relativamente ao Irão (que está à beira de se tornar uma potência nuclear, enquanto os EUA assobiam para o lado). E já nem vou falar do conflito israelo-árabe.
 
Na política interna o quadro não é melhor. A Administração Bush foi incapaz de propor uma revisão credível do sistema de saúde ou da segurança social, tendo em relação a esta última avançado com uma proposta de lei tão absurda que o Congresso a chumbou por larga maioria. Pouco ou nada se fez em relação à independência energética, com a Administração indiferente às energias renováveis. A política ambiental foi catastrófica, envolvendo chantagens a cientistas no tema do aquecimento global e uma indiferença gritante face aos evidentes desafios do nosso tempo. A gestão do "caso Katrina" foi pavorosa.
 
Guantánamo, os abusos em Abu Ghraib e o uso recorrente da tortura enfraqueceram os alicerces morais da América. A política fiscal esvaziou os bolsos da classe média. O endividamento externo cresceu brutalmente. As agências federais gastaram milhões de dólares em programas inúteis, alargando o peso do Estado sem repercussões a nível social e económico. Embora a grave crise financeira seja fruto de causas muito diversas, a Administração Bush não fica isenta de culpas, promovendo o desregulamento dos mercados e assistindo impávida à crise do sub-prime. E é melhor nem falar do estilo – cheio de tiques autoritários – ou dos escândalos de corrupção (veja-se o “caso Abramoff”), dos reiterados abusos de poder ou dos atentados às liberdades individuais (“Patriot Act”, sistemas de vigilância que violam direitos privados, etc.).
 
A Esquerda europeia já odiava Bush antes mesmo de ele ter tomado posse – porque é alimentada de um modo geral por um anti-americanismo sistemático, pelo que teria em qualquer caso traçado um quadro cinzento da sua Presidência. Porém, mesmo aqueles que se situam mais à Direita no espectro político, ou que olham com reverência e entusiasmo para os Estados Unidos (e acreditem que eu sou um deles), não podem deixar de estar desiludidos com a Administração liderada por George W. Bush.

 

 [Também publicado no Era uma Vez na América].

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