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Delito de Opinião

O Vale do Futebol?

Ana Lima, 07.09.12

Nas décadas de 70 e 80 do século passado, o Estádio Nacional, que compreendia, não só o estádio em si, mas todos os espaços desportivos e terrenos à volta, era um local cheio de vida onde se realizavam competições muito participadas, onde se praticava desporto e onde os menos dados à actividade física mais intensa aproveitavam para passear ou fazer piqueniques. Praticamente todas as áreas eram acessíveis. Ali se instalaram, provisoriamente (mas durante muitos anos) famílias que vieram de África e de Timor após a descolonização. 

Porque vivia ali perto, o Estádio Nacional faz parte da minha história. Com o meu pai ia assistir aos campeonatos de atletismo, ver o ténis, passear; os parques de estacionamento eram sítios ideais para os pais ensinarem os filhos a conduzir e, tantas vezes, ao domingo, após a praia, estavam cheios de famílias que ali comiam e ficavam a dormir a sesta, a ler, a jogar. Sei que essas utilizações são discutíveis e, ao longo dos anos, o complexo do Jamor foi-se dedicando, cada vez mais, estritamente, ao desporto.

Mesmo que tenha sido ali que me tiraram as primeiras fotografias, que brinquei, brinquei, brinquei, que aprendi a identificar algumas árvores e pássaros, que andei em baloiços improvisados com vista para o rio, que rebentei com os joelhos, compreendo que, até por questões de segurança, tivesse que se limitar o acesso a algumas áreas. 

Desportivamente falando, fizeram-se alguns investimentos importantes como foi, por exemplo, o das piscinas e as melhorias em campos de jogos e ténis. No entanto, de uma forma geral, o uso do espaço é agora muito mais limitado. Com a colocação das vedações a área passou a ter cada vez menos vida. E, ao longo dos anos, muitos foram os projectos que contribuíram para afastar a população de muitos locais. O Campo de Golfe é um exemplo.

Mas a questão é que continua a olhar-se para o Estádio Nacional e a pensar só em alguns. Falo das Urbanizações que em determinada altura estiveram previstas e agora da chamada "Cidade do Futebol". Eu gosto de futebol. E até percebo que a crise na construção terá que ser combatida também pelo Estado. Mas o investimento pensado para um mini-estádio, 5 campos de treino, um pavilhão multi-usos, um complexo de ténis (para receber o Estoril Open) e duas unidades hoteleiras terá como resultado a redução do espaço verde e aberto, em favor do betão e de infra-estruturas que, à semelhança de outras, rapidamente poderão deixar de ter uso. Isto se alguma vez o projecto se concretizar. Para isso muitos jogos particulares a selecção nacional A terá que fazer... 

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