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Delito de Opinião

EUA: a hora dos católicos

Pedro Correia, 05.09.12

 

Pela primeira vez na História bissecular dos Estados Unidos, não há nenhum protestante branco entre os candidatos à presidência e à vice-presidência, o que constitui um significativo sinal dos tempos. No campo republicano, o candidato à Casa Branca, Mitt Romney, professa a religião mórmone. O seu braço direito, como candidato à vice-presidência, é Paul Ryan, um católico assumido - tal como Joe Biden, recandidato ao lugar de vice-presidente pelo Partido Democrata.

Mas o recuo dos protestantes na vida pública norte-americana tem muitos outros sinais visíveis. O democrata que preside ao Senado, Harry Reid, é mórmone. A Câmara dos Representantes tem um presidente republicano: John Boehner, católico. E entre os nove membros do Supremo Tribunal federal há seis católicos e três judeus. Algo sem precedentes nos EUA.

Resta nas hostes protestantes o próprio Presidente Barack Obama, que cresceu sem educação religiosa e se baptizou já adulto, em 1988, aos 27 anos. Mas por ser afro-americano também ele foge ao padrão clássico. Estamos muito longe dos tempos em que John F. Kennedy - primeiro e até agora único presidente católico dos EUA - teve de proclamar solenemente, num discurso marcante, que jamais se deixaria influenciar pelas opiniões de bispos ou até do Papa. E mesmo ele escolheu para vice-presidente o senador Lyndon Johnson, um protestante oriundo do sul do país.

A verdade é que o mapa sociológico norte-americano está a mudar rapidamente. Os protestantes não ultrapassam hoje 51% da população, a nível nacional, enquanto os católicos são já cerca de 25%, o que corresponde a quase 70 milhões de fiéis - a quarta maior comunidade nacional católica a nível mundial, após o Brasil, o México e as Filipinas. Mas assumem o primeiro lugar enquanto confissão religiosa autónoma, uma vez que as diversas igrejas protestantes estão muito fragmentadas. E em estados como Rhode Island e a Pensilvânia ultrapassam 50% da população.

"Acredito numa América onde a separação entre a Igreja e o Estado seja absoluta. Acredito numa América que não seja oficialmente católica, protestante ou judaica - onde nenhum membro da administração pública solicite ou aceite instruções do Papa, do Conselho Nacional das Igrejas ou de qualquer outra fonte eclesiástica", declarou o então jovem candidato Kennnedy nessa memorável alocução, proferida a 12 de Setembro de 1960, a menos de dois meses de derrotar Richard Nixon na corrida à Casa Branca.

Se fosse hoje, tenho a certeza, não precisaria de fazer esse discurso. Joe Biden que o diga. E Paul Ryan também.

 

Imagem: John F. Kennedy, o primeiro presidente católico dos EUA, em visita à Irlanda (Junho de 1963)

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