Baixa política
O argumento de que a RTP era um sorvedouro de dinheiro, que sugava aos contribuintes 1 milhão por dia, sensibilizou-me. De resto, há muito que me interrogava sobre o interesse de manter dois canais, sobretudo em manter um canal com características indistintas dos outros canais generalistas, com o dinheiro do Estado. Agora, do nada, caem do céu números que nos apresentam outra realidade e que - pasme-se - são grosso modo corroborados pelo governo.
Sabendo-se que a privatização de mais um canal vai rebentar com o mercado publicitário, base de sustentação dos media e que essa crise vai ter um efeito dominó, afectando não só as televisões como todos os outros órgãos de informação, porque raio não se fecha pura e simplesmente um dos canais? Se afinal o "sorvedouro" até já pode dar lucro, chamem as coisas pelos nomes e não afirmem que é por razões financeiras que querem descartar o canal público de televisão. Não vou sequer discutir aqui a importância de manter o serviço público. Propositadamente limitei-me às razões financeiras, as que sempre têm sido invocadas para defender a necessidade de despachar a RTP.
Mas se dúvidas houvesse, percebe-se agora que esta decisão é política e de forte base ideológica. E se é política e lesiva para um sector estratégico como o da Comunicação Social, então é muito grave o que se está a preparar.