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Delito de Opinião

Afinal sempre era possível

José Navarro de Andrade, 06.08.12

Abomino ping pong. Estão para ali uns matulões fechados numa saleta, de volta de uma mesa de jantar a atirar uma bolinha minúscula ping para lá ping para cá. Isto para dizer que ontem estive pregado ao televisor 3 horas a ver o épico Portugal Coreia do Sul. E a culpa foi do comentador Virgilio Nascimento. Ele guinchava de exaltação patriótica? Pelo contrário, chegou a pedir desculpas aos espectadores por se emocionar. Naquelas 3 horas fiquei com a impressão que aprendi tudo o que havia para saber acerca deste famigerado desporto, descobri que no ténis de mesa (nunca mais lhe chamarei ping pong) há táctica, perspicácia, requintes técnicos.

O mesmo já se tinha passado com actividades desportivas tão exóticas com os saltos para água, um nome tão ridículo que só os comentários de César Peixoto poderiam dignificar; o tiro com arco (como levar a sério um desporto que se pratica de chapéu?) pela voz de Pedro Vaz ou o halterofilismo, uma coisa de brutamontes transformado por António Caeiro numa arte de equilíbrio balético.

Há mais, muito mais, destes fa-bu-lo-sos comentadores desportivos, disseminados entre a RTP e a Eurosport, capazes de nos contagiarem (pior: convencerem) com a sua sapiência, com a sua capacidade de nos esclarecerem sobre os detalhes do que estamos a ver utilizando uma linguagem leiga, subsumindo a opinião sob o rigor descritivo, com uma sabedoria segura, paciente e entusiástica. Na verdade, eles trabalharam, estudaram e empenharam toda uma vida naqueles desportos que só vêm a a luz pública de 4 em 4 anos, para virem até nós mostrar que vale a pena.

Fica-se mesmo com a impressão que foi de propósito: todos os histéricos, os línguas de pau, os incapazes tecnicamente, os opinativos insensatos, foram desaguar no comentário futebolístico. E, no entanto, seria tão fácil: bastava escolher gente deste calibre...

 

2 comentários

  • Mas até esses desportos "difíceis" pela voz de quem as comenta assim parecem cativantes. XXOO
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