mistificações
Pouquíssimos o viam, tendo o programa prosseguido anos a fio com audiências pouco mais do que residuais, preguiçosamente encostado ao estatuto adquirido. Raríssimas vezes o citavam, quer na rua, quer no âmbito dos estudos historiográficos. Considerado um “grande comunicador”, dele não terá ficado um epigrama, um aforismo, uma imagem vincada e vinculativa, que perdure além de um repetitivo “storytelling” devedor sobretudo do estilo vetusto de um Pinheiro Chagas. Em vida, das escassas vezes que lhe pediam opinião e ele a dava sem constrangimentos, mesmo quando poderia ter sido polémico, nem assim era escutado com mais do que a deferência devida a um ancião inócuo.
Querendo lamentar na morte do Professor Hermano Saraiva, não o merecido ser humano, respeitável e estimável, ou o Homem público, com os seus defeitos e virtudes; mas a figura exemplar de serviço público de televisão, será decerto desmerecer ambas as coisas: a figura e o serviço público de televisão. Há lugares comuns piores do que a morte.