Professor Saraiva
O miúdo telefonou para apurar a razão do nível da tristeza.
Morreu um homem que era historiador e tinha mais de 90 anos e?
E, meu querido filho, José Hermano Saraiva faz parte da nossa moldura de vida, como fez o Vasco Granja, o Sousa Veloso. Pessoas que vimos sempre, que reconhecemos a voz, imitámos os seus gestos e com quem aprendemos. Um homem que vivia para contar as histórias da História e que, anos a fio, fez um programa de televisão que só pode ser considerado serviço público, não pode ser visto de outra forma.
E o miúdo pergunta
Ah, então é como quando morre um músico de quem gostamos muito?
Isso. Ou um escritor que lemos desde sempre, um poeta, um pintor, alguém que se destacou por ser diferente.
Como o Mandela?
De certa forma.
E tu choraste com quem?
Quando morreu o José Cardoso Pires, a Natália Correia, o Zeca Afonso, o Bernardo Sassetti.
E o miúdo, outra vez, interrompendo:
Sim, sim, com o Sassetti até eu chorei. Felizmente ficou a música. Deste professor fica o quê?
Um acervo enorme na RTP e a memória.
O miúdo desligou o telemóvel e eu senti que as lágrimas estavam prontas a voltar.