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Delito de Opinião

Alberto Martins, a homenagem que se impõe

André Couto, 20.07.12

 

Terminava a manhã do dia 17 de Abril de 1969 e decorria a inauguração do Edifício das Matemáticas, na Universidade de Coimbra. Alberto Martins, Presidente da Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra pede, em nomes dos estudantes, a palavra ao Presidente da República, Américo Thomaz. Ia transmitir o sentimento geral em máximas como: "exigimos diálogo", "educação para todos" e "estudantes no governo da Universidade". A palavra foi-lhe negada, Alberto Martins foi preso pela PIDE e, horas mais tarde, a polícia de choque foi largada sobre os estudantes que faziam uma vigília pacífica de solidariedade para com o dirigente preso. No dia 30 de Abril, o Ministro da Educação Nacional, José Hermano Saraiva, acusou os estudantes de desrespeito, insultos ao Chefe de Estado e do crime de sediação. Concluiu dizendo que a ordem seria restabelecida em Coimbra. E foi, em 25 de Abril de 1974.

A minha homenagem a Alberto Martins e aos anónimos que não se conformaram. É de Homens destes, exemplos de luta pela Liberdade, que é feita a memória e a História de Portugal.

Os outros são páginas negras.

3 comentários

  • Num país com uma ditadura que dura mais de 40 anos é muito perigoso (além de contraproducente) colar eternamente a esse regime todos aqueles que de algum modo lhe estiveram ligados. Acresce que JHS foi, de facto, importante para a divulgação da História de Portugal

    Dito isto, é verdade que este episódio foi dos mais negros da ditadura (que não era fascista, mas isso são contas de outro rosário...). E é também verdade que JHS não era bem um historiador competente...
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    Pedro Correia 21.07.2012

    Tem havido alguma confusão nestes conceitos. Há os historiadores, com pergaminhos académicos e cátedra universitária, que elaboram a História. São por vezes péssimos narradores, de leitura penosa e nada fluente: isso não lhes rouba o brilho académico.

    Há outros, pelo contrário, que se especializaram em narrar histórias da História. Não têm pergaminhos académicos e são encarados com desdém pelos catedráticos do ramo. Mas têm grande aceitação popular devido à sua capacidade de "efabular" a História, precisamente. Nenhuma História o é verdadeiramente sem uma narrativa - todos os esforços feitos até hoje para abolir essa narrativa foram condenados ao fracasso - nem sem alguma capacidade de "supor factos" na ausência de documentos categóricos e esclarecedores.

    É certo que houve a carta de Pero Vaz de Caminha, é certo que houve as crónicas de Fernão Lopes, é certo que houve os éditos reais e os registos de baptismo. Mas quanto da nossa história carece de documentos abrindo assim espaço à especulação? Dou apenas o exemplo: as chamadas Actas das Cortes de Lamego, que terão sido realizadas durante o reinado de D. Afonso Henriques e sobre as quais assentou durante séculos boa parte do direito consuetudinário português, eram afinal apócrifas. Pelo simples facto de essas cortes, como é muito provável, jamais terem existido.

    Qual o mérito de Saraiva enquanto divulgador? Precisamente esse: o de abrir ao cidadão comum o gosto generalizado pela História. Houve demasiado espaço à especulação sem fundamento documental nos livros que escreveu? Houve. Mas em muitos casos isso era-lhe permitido por ter estudado com grande profundidade aquilo sobre o qual se pronunciava. E o exemplo mais óbvio que me vem à memória é o de Luís de Camões. Quantas vezes a sua biografia foi feita e refeita, ditada e contraditada por inúmeros autores ao longo dos séculos com base em linhas ou entrelinhas de poemas, na ausência de matéria documental inequívoca e rigorosa?

    Autores com as características de Saraiva têm desde logo este mérito: aquilo que escrevem abre muitas vezes o caminho para a leitura de obras mais complexas situadas noutros patamares de exigência, à luz dos cânones académicos. Tal como a leitura dos livros de aventuras ou da banda desenhada popular abre o gosto por leituras mais exigentes. Sei do que falo: isso sucedeu comigo.

    Recordo, aliás, outro historiador de uma geração anterior à de Saraiva: Mário Domingues. Foi um escritor prolífico, autor de dezenas de biografias. Mas também um narrador notável e com muita audiência na era pré-televisiva. A História que nos deixou não é uma História académica, cheia de notas de rodapé que nos remetem para as vetustas e esmagadoras obras do Doutor X ou da Eminência Y. Mas é uma história popular, onde sentimos palpitar a vida.

    É um pouco isso que nos sucede ainda hoje ao lermos os romances históricos de um Dumas, um Hugo, um Scott. A História vista de outra maneira.
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