A normalidade
Surpresa geral: o processo Freeport vai acabar sem condenações. Crentes no princípio de que todos são inocentes até prova em contrário, lá teremos de admitir que tudo não passava de fumo sem fogo. Tão ou mais interessante é constatar que o Ministério Público chega ao fim a pedir a absolvição dos acusados e o senhor Procurador Geral da República a considerar tal circunstância «normal», acrescentando ainda que há milhares de casos similares e que só a exposição mediática justifica os comentários que se fazem sobre este. Bom, a exposição mediática deste teve pelo menos um ponto positivo: permitiu-nos ouvir da boca do senhor Procurador Geral da República que há milhares de casos similares, isto é, casos em que a investigação do Ministério Público revela ter tanta qualidade que, antes do julgamento acabar, os próprios elementos do Ministério Público já estão convencidos de que se enganaram e passaram para o lado da defesa, e ainda constatar que, em vez de lamentar o dinheiro desperdiçado nas milhentas investigações e os anos de tensão e vergonha a que os milhares de arguidos foram sujeitos, o senhor Procurador Geral da República acha isso normal. O que não nos permite saber é se os procuradores que investigam com tanta qualidade sofrem penalizações na carreira ou continuam a investigar «normalmente» mas, ajudados pela displicência com que o senhor Procurador Geral da República menciona o facto e pela sobranceria com sacode a água do capote sempre que a imprensa «inventa» mais um caso, desconfiamos conhecer a resposta. Afinal, todas as aberrações são normais na Justiça portuguesa.