Diz que disse que não disse
Manuela Ferreira Leite voltou a meter os pés pelas mãos. Como quando falou em suspender a democracia por seis meses ou sustentou que não deviam ser os jornalistas a seleccionar as notícias que difundem. Entrevistada ontem por um Mário Crespo que se excedeu em benevolência, no prime time da SIC, a presidente do PSD abriu a porta a um entendimento com o PS para um futuro governo de Bloco Central, confirmando que as divergências com José Sócrates são de forma e não de fundo. Como tem vindo a ser hábito, não tardaram os oficiosos hermeneutas de serviço a traduzir as palavras de Ferreira Leite, procurando interpretar o seu verdadeiro pensamento sobre a matéria: diz que disse que não disse. É um clássico, desde que a ex-ministra das Finanças ascendeu ao posto supremo do partido: os seus apaniguados tremem cada vez que abre a boca. Confirma-se: a senhora não é fadada para estas lides. O PS só pode agradecer ao PSD. Espero sinceramente que Sócrates não seja ingrato.
ADENDA 1. Por tudo isto, não admira que personalidades do partido, como Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes, Pedro Passos Coelho e Nuno Morais Sarmento confessem não se ter dado sequer ao incómodo de ver a entrevista. E admira ainda menos que os votos de comunistas e bloquistas, conjugados, andem muito perto dos do PSD.
ADENDA 2. Curiosa, cada vez mais curiosa, a simetria entre José Sócrates e José Pacheco Pereira. Um queixa-se da 'campanha negra' contra ele, o outro queixa-se da 'campanha 'contra a líder dele. Desta vez, ao menos, Pacheco dispara contra "os jornalistas" em geral, sem fazer discriminações: a 'conspiração' é global. Aqui entre nós, que ninguém nos ouve, isto anda tudo ligado. E o Elvis não morreu: foi raptado por marcianos.