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Delito de Opinião

A crítica que apenas sabe elogiar

Pedro Correia, 03.07.12

A falta de exigência de muita da nossa "crítica", nas mais diversas especialidades, chega a ser quase chocante. Este é um tema recorrente nas minhas reflexões e regresso hoje a ele a propósito de uma "crítica" gastronómica que acabo de ler. Como vem sendo costume com excessiva frequência, nem sombra de reparo crítico nesta prosa: só elogios. Mas elogios a quê? Ao inusual, ao raro, ao criativo, ao extraordinário? Não: um elogio à febra grelhada. Sim, ao mais banal e desinspirado prato do nosso quotidiano alimentar. Daqueles que comemos em casa e que de modo algum justificam uma deslocação ao restaurante.

O artigo espraia-se em elogios aos maiores lugares-comuns da gastronomia portuguesa, com recurso a adjectivos tão banais como os pratos que descreve. Diz o articulista que o estabelecimento onde mastigou justifica a "sua inclusão entre os bons restaurantes" de uma certa cidade. Cozinha "simples, mas cuidada e de bom gosto". O enchido é "saboroso". O entrecosto grelhado é "excelente". Comem-se por lá "dois bons pratos" de bacalhau. Quais são? Se apostaram na banalidade, uma vez mais, acertaram: frito e à Brás.

E chegamos às febras, "talvez o prato mais emblemático" do restaurante. "De textura e sabor cativantes". Grelhadas só com sal.

Um interminável bocejo, esta prosa. Uma confrangedora pobreza estilística e conceptual, esta "crítica" que apenas elogia. Um significativo sinal dos tempos, esta elementar falta de vontade de ultrapassar o lugar-comum.

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