Estranhos lugares #4
Nos dias de hoje o comunismo tem, como se sabe, três capitais: Pyongyang, Havana e Berkeley. Esta última não aparece representada com barraquinha de estado na festa do Avante! porque é uma anedota contada pelas preconceituosas elites de Washington, Nova Iorque e até de Los Angeles, que em snobismo não fica atrás de ninguém. Em compensação na festa do Orgão Central há-de estar presente a RPChina, a qual é comunista retinta da bandeira para cima, milenarmente imperial ao nível do Comité Central e capitalista em versão hardcore daí para baixo.
Isto vai de lamento por ninguém da secção internacional do PCP se ter lembrado de convidar uma delegação da Transdniestre ou Transdniéstria ou Transdnistria (pop: 518.700; área: 4163 km2; capital: Tiraspol; grafia nominal: ainda por definir) sem dúvida o derradeiro bastião do vero e autêntico comunismo de estado à moda da Guerra Fria, da Cortina de Ferro, do Campo Socialista, do Comecon, do Pacto de Varsóvia, de John LeCarré.
Esta nação não é zombaria nem saiu de um dicionário de lugares imaginários que um certo senhor anda por aí a divulgar. Embora seja só reconhecido pela Rússia, o país fica situado na margem leste do rio Dniester (não confundir com o Dnieper) no troço em que bordeja a Moldávia, antiga Bessarabia. Quando a Moldávia cindiu da URSS e proclamou independência, a Transdn-coiso não quis ir atrás, sobretudo porque a minoria étnica de origem russa, que ali era maioritária, não aceitou de forma alguma a romenização e a romanização exigida pelos separatistas moldavos. Aprendera a lição com o que sucedeu aos seus congéneres letões. Mas como estava entalada a leste pela também recém-independente Ucrânia, que remédio teve senão autonomizar-se, mantendo a antiga bandeira soviética, os caracteres cirílicos, a língua russa e uma versão local do rublo.
Completa o quadro o facto de ser tão arreigado o sovietismo nostálgico da Trasdn(…) e dos seus cidadãos russos perdidos numa terra estranha e hostil, que mantiveram intacto o formato do exército vermelho e o poder de estado leninista, até há pouco conduzido pelo grande líder Igor Smirnov (parece brincadeira outra vez, mas não é…)
De que vive a Transdn-e-tal? Da produção de aço, o que na língua de pau daquela ideologia costuma significar, segundo alguns avisados analistas, armamento. Se fossem menos desconfiados, os trasndnistrienses (deve ser assim) até poderiam viver do turismo, convertendo a sua pátria num parque temático à escala 1/1, proporcionando uma original e genuína experiência soviética, já extinta em qualquer outro lado, mas não aqui, neste cantinho da Europa, a um punhado de horas de vôo de Bruxelas. Bastaria que a capital Tiraspol tivesse aeroporto próprio em vez de ser servida pelo da arqui-rival cidade de Chisinau.
O Palácio Presidencial em Tiraspol
Um dia como os outros em Tiraspol
Entardecer em Tiraspol