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Delito de Opinião

Para os amantes do AO

Ana Vidal, 16.06.12
Declaração Mineira de Amor aos Amigos

Ceis são o colíri dos meus zói.
São o chicrete garrado na minha carça dins.
São a maionese du meu pão.
São o cisco no meu ôiu (o ôtro ôiu - eu tenho dois).
O rechei do meu biscoito.
A masstumate do meu macarrão.
Gosto dimais da conta docêis, uai.

Ces são tamém:
O videperfume da minha pintiadêra.
O dentifriço da minha iscovdidente.
Óiproceisvê,
Quem tem amigos anssim, tem um tisôru!
Eu guárdêsse tisouro, com todo carinho ,
Do Lado Esquerdupeito !!!
Dentro do Meu Coração!!!
GOSTO DOCÊ PADANÁ!!

Transcrevo aqui este delicioso texto "roubado" a um amigo brasileiro (mineiro) e dedico-o a todos os defensores do AO que acham uma boa ideia a submissão da grafia à fonética. É uma pequena amostra de como essa ideia resultaria na prática, se se impusesse a coerência de levá-la às últimas consequências. É fácil imaginar a Babel em que se transformaria o Brasil na comunicação escrita, para já não falar de todos os outros países de língua portuguesa. Uniformização da língua?? Deixem-me rir.

6 comentários

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    Pedro Correia 17.06.2012

    Tem razão: é a evolução que mantém uma língua viva. Sublinho: a evolução. Precisamente ao contrário do que se fez com o AO, que procura impor alterações por decreto. Abruptamente. Contrariando os pareceres científicos e, em muitos casos, o mais elementar bom senso (faz algum sentido que em Portugal se deixe escrever "recepção" em nome da 'unificação' ortográfica luso-brasileira quando no Brasil se escreve... "recepção"?)
    E já que nos chama "obtusos", segue uma perguntinha perplexa: "a" trema? Isso já deve ser consequência do acordês. Os acordistas andam tão baralhados que já nem sabem como se escreve, como se diz nem o género das palavras.
    Vou dar três exemplos:
    1. "Já não sabem como se escreve". Dois órgãos de informação pertencentes ao mesmo grupo empresarial adoptaram o acordês. Um escreve 'sector', outro escreve 'setor'.
    2. "Já não sabem como se diz". Ouvi ontem na rádio, num noticiário, duas vezes a palavra(?) "impato". A jornalista deveria dizer "impacto", mas depois da caça às consoantes 'mudas' abriu já a caça às sonoras.
    3. "Já não sabem o género das palavras". Qualquer dicionário pré-AO explica ao comum dos mortais que trema é substantivo masculino. Eis que este nosso amigo acordista decide alterar o sexo da palavra. Esta nem lembrava ao malacaca...
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    João Moreira 17.06.2012

    Não me lembro de ter dito que sou isento de qualquer erro. Estou-lhe genuinamente grato pela correcção, não fazia a mais pequena ideia e sou humilde o suficiente para o admitir.
    Mas diga-me lá: acredita mesmo que a evolução da língua foi assim tão natural? As línguas estão cheias de reformas e acordos nos tempos dos reinados em que "poucos" sabiam ler e escrever.
    E volto a dizer, mil novecentos e noventa.
    Isso de dizer "impato", é absoluta ignorância. Impacto permanece intaCto. Há uma pequena regrazinha para respeitar as divergências fonéticas. Nalguns casos, é permitida dupla grafia.

    "c) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres , dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro , concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção."

    Retirado do acordo ortográfico de 1990. Diga-me, meu caro, qual o problema em escrever receção se já não era, efectivamente, errado?
    E informo-lhe que essa regra se mantém no NOVO acordo. Pode continuar a escrever "Recepção" que não estará a ir "contra" o AO.

    O ponto onde eu queria chegar era que este tipo de posts "desinformados" transmitem continuamente uma ideia errada a quem desinformado está. E esse argumento da "receção" só mostrou que tenho razão e que a maioria das pessoas nem se deu ao trabalho de se informar devidamente antes de formar uma opinião.
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    Ana Vidal 17.06.2012

    O Pedro respondeu o que eu ia dizer-lhe. "A" trema?? Olhe, devolvo-lhe o argumento: que tal informar-se antes de emitir uma opinião? E, já agora, importa-se de explicar-me o que é exactamente uma "pronúncia culta"?
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    João Moreira 17.06.2012

    Ana: Se bem me recordo, não discuti nem pus em causa a correção que me foi feita acerca d' "A" trema. Saiba que "O" trema já não existia à data do meu nascimento. Não foi leccionado na escola e se "ouvi" falar dele é porque me interesso. Será a Ana capaz de se informar também e deixar de fazer posts que insinuam que o AO nos conduz, inevitavelmente, a um português "labrego"?
    Se esse é realmente o seu melhor argumento ("A" trema) para defender o que acha mais correcto, passe a palavra ao Pedro.

    Pedro:
    1. "Pronúncia culta" é uma coisa que até a mim me faz cócegas.
    No Brasil o segundo "C" de cacto é pronunciado; em Portugal não é. Agora imagine uma reforma ortográfica que estabelecesse o seguinte: os brasileiros continuarão a dizer caCto, mas escreverão cato porque em Portugal se diz cato e não caCto. Isto seria completamente absurdo, tão absurdo como obrigar os portugueses a escrever fato continuando a dizer faCto lá porque os brasileiros não dizem faCto mas fato.
    São duas pronúncias cultas pela qual a dupla grafia mantém o respeito.
    A meu ver, pronúncia culta é isso. As formas, já sabidas pelo mundo, de falar corretamente. Nunca se escreveria "São o chicrete garrado na minha carça dins.", como usou a Ana para defender a sua opinião, porque isso não é uma pronúncia culta. Isso é o mesmo que começarmos a escrever "com" (ou até "comnhe") em vez de "cão", e "mãnhe" em vez de "mãe" em virtude do sotaque portuense.

    2. Com que então somos pioneiros no que toca a "impor" a evolução por decreto?
    Conhece a língua francesa? Sabe porque oitenta passou de "Octante" (huitante) para "quatre vingt"? Ou noventa passou de "nonante" para "quatre vingt dix"?
    Sabe que no final do Séc XX foi "decretado" que "cent trois" passaria a ser "cent-trois" em análise a "vingt-trois". Já ouviu falar da Academia Francesa e de como mudaram a língua nos últimos séculos? Já ouviu falar dos incontáveis volumes distintos de dicionários tipo-acordo franceses publicados pela Academia nos últimos séculos?
    Diga-me, quando escreve "Farmácia", lembra-se da reforma ortográfica de 1911 onde deixou de se escrever "pharmácia" e "orthographia"? Onde a ortografia portuguesa deixou de ser tipicamente etimológica para passar a ser fonética? Já lá vão cem anos, vamos lutar para abolir isso em bom nome do grande Camões já que somos tão a favor da evolução natural.
    Além disso, já viu onde a evolução natural da língua nos "extah" a levar? Já tive o prazer de ver professores apresentarem, em aula. textos "axihm" escrito por eles e: "desculpem, é o hábito".
    Pessoalmente prefiro o AO ao que nos traz a evolução natural.

    3. Faz ideia de quantas vezes vi escrito "receção" em "português-brasileiro"? A pronúncia deles varia imenso dependendo da região. Para o Sul dizem "tu" em vez do tão já cliché: "você".
    Não creio que nos afaste assim tanto como nos afasta a sintaxe.

    4. Ao abrigo do mesmo artigo de "receção" e "recepção" está "seCtor" e "setor".
    Seria, mais do que lógico, que os órgãos de informação escrita fossem mais coerentes e estivessem uniformizados. O que acontece é que, com todo o panico que gerou o AO às pessoas que recebiam meias informações, também há informação errada dentro desses orgãos. Não me hei-de esquecer de ler, num jornal que não recordo o nome, que de "faCto" passaríamos a escrever "fato". E que "paCto" passaria a ser "pato". Quanto rídiculo será que os tais orgãos da informação escrita digam tal barbaridade? Será possível acreditar que alguém como o célebre Prof. Lindley Cintra, envolvido no AO de 1990, poderia sequer pensar nisso? Refiro-me aqui ao AO de 1990 porque o artigo em causa não sofreu alterações.
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    Ana Vidal 17.06.2012

    João Moreira, eu passo a palavra quando e a quem eu quiser, não preciso de ordens suas e muito menos de tutores. Perguntei-lhe o que considerava "pronúncia culta" e a sua resposta - dada por intermédio do Pedro, note-se - é confusa e pouco convincente. Enfim, dispenso o seu tom paternalista e arrogante (com um inconfundível cheirinho machista) e lamento que não tenha percebido o meu post. Dediquei-o aos amantes do AO, mas só àqueles que têm sentido de humor e sejam capazes de entender uma ironia. Não a quem se leva demasiado a sério e está mais preocupado em exibir os seus vastos conhecimentos linguísticos (não tão vastos, no entanto, que não deixem escapar vários erros de sintaxe, de acentuação e de pontuação, além de uma inquietante alternância no uso das grafias nova e "antiga"). Passe bem.
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