Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Obter um resgate e perder a face

Rui Rocha, 11.06.12

A Espanha passou anos a negar a realidade. A última crise mediática ficou associada a uma certa caçada a elefantes africanos. Mas o verdadeiro problema do país está relacionado com os elefantes brancos. O estouro da bolha do imobiliário, anunciado há muitas luas e sempre escondido debaixo do tapete,  lançou tijolos em todas as direcções. O edifício da banca foi, naturalmente, dos mais atingidos. Mas, o buraco de cerca de 40.000 milhões de euros diagnosticado pelo FMI só se tornou impossível de tapar sem ajuda externa porque o país perdeu a sua credibilidade. Esse é o resultado da promiscuidade entre interesses políticos e económicos, da falta de transparência e da alucinação dos governantes que pintaram os tais elefantes em tons de rosa. Neste contexto, Rajoy deu ao mundo um exemplo perfeito de uma gestão ruinosa da comunicação. Depois de embater com a realidade, o poder político espanhol dedicou-se a negar o resgate. Por esta hora, já terão sido esgotados todos os eufemismos e designações alternativas. Plano de ajuda, linha de crédito, financiamentoprémio de gestão eficiente da crise, sagrado maná, na semântica de Rajoy tudo se pode chamar aos 100.000 milhões de euros disponibilizados à banca. Desde que não se utilize a palavra resgate. Depois, no momento em que o seu país desceu, objectivamente, à 2ª divisão europeia (a liga dos resgatados), o primeiro-ministro preparava-se para ir ver a bola (literalmente) sem dar a cara pelas explicações devidas aos espanhóis. Perante a pressão da opinião pública, acabou por fazer uma intervenção horas antes de assistir, na Polónia, ao jogo entre a Espanha e a Itália. Ora, tudo isto são péssimos indicadores, no que diz respeito à atitude e às prioridades, quando a questão fundamental é a da credibilidade. O resgate resolve temporariamente o problema da liquidez. Em contrapartida, nada adianta ao da solvabilidade. Para este é necessário reformar a economia, o Estado e a forma de fazer política. Para isso, diriam nuestros hermanoshay que tener pelotas. Daquelas que não andam por aí aos pontapés nos estádios do Euro. Se Rajoy não perceber isto, se persistir em esconder-se da realidade, atrás da semântica e do eufemismo, não há quem possa resgatar a sua face. E a cara de Rajoy é, goste-se ou não, a imagem de Espanha.

 

13 comentários

Comentar post