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Delito de Opinião

Crimestaminal

Rui Rocha, 17.05.12

Imagine que tem um filho e que um grupo de malfeitores o obriga a apontar-lhe uma arma. E que a arma tem duzentas câmaras. Cento e noventa e nove estão vazias e uma delas tem uma bala. Os malfeitores rodam o tambor da arma. A partir desse momento o leitor deve fazer um disparo. Existe uma hipótese em duzentas de ferir ou matar o seu filho. É uma posição insuportável para os pais. Pois é exactamente nessa posição que a Crioestaminal os quer colocar com o seu novo anúncio. No spot televisivo, com a imagem de uma criança sentada numa marquesa, uma voz começa por dizer que "há uma hipótese em 200" de um dia ser diagnosticada ao seu filho "uma doença cujo tratamento se pode encontrar nas suas células estaminais ou nas de um irmão". Doenças como "a leucemia, o linfoma, tumores sólidos", prossegue a voz em off. No final, a criança pergunta simplesmente: "Mãe, pai, guardaram as minhas células?" Ou seja, o que a criança realmente pergunta é: "Seus criminosos, como é possível que ponham a minha vida em causa e não recorram aos serviços da Crioestaminal?" Isto não é publicidade. É um delito de coação. Que recorre aos mais nobres sentimentos para dar origem a um sentimento de culpa injustificado, baseado em falsidades científicas. A Crioestaminal não está a pôr a ciência ao serviço da vida. Está a obrigar os seus eventuais clientes a jogar uma roleta russa vergonhosa a pretexto da doença e da morte. Fá-lo de forma consciente, como já admitiu no Facebook. A imprudência seria condenável. A agressão deliberada só pode suscitar repugnância.

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