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Delito de Opinião

contos ínfimos (18)

Ana Vidal, 15.05.12

SÍSIFO


Depois da notícia arrasadora, o homem obrigou-se a subir, sem uma única paragem, os dezanove lanços da escada de serviço. Foi aumentando o ritmo da escalada até ficar sem fôlego. Precisava de se aturdir, de dar ao coração uma outra razão para bater como uma bomba em contagem decrescente. Mas não bastou. Chegou ao topo com vontade de recomeçar tudo, uma e outra vez. Espreitou o elevador. Desceria nele e retomaria a penosa marcha da subida tantas vezes quantas fossem precisas para que o cansaço vencesse a angústia que o esmagava. Havia de conseguir ter paz. O elevador estava no rés-do-chão, podia ver-lhe o tecto sujo no fundo do fosso imenso, escuro. Hesitou um segundo, não mais. Não premiu o botão. E foi por ali mesmo que desceu, afinal.

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