Cohntra-bendit
A França é reconhecida mundialmente por produzir, em boa cadência, um número assinalável de ociosos, artistolas, canalhas, falsários, crápulas e idiotas que se diferenciam das aves de arribação que lhes correspondem noutras paragens por apresentarem, em lugar de penugem, uma fina camada de verniz, aqui lhe chamaríamos presunção, que vista à distância se confunde com certos ares de intelectualidade (pronto, agora já sabem a origem do termo vernissage). O auto-proclamado intelectual francês ascendeu ao mundo das ideias não para as discutir e aprofundar, mas para as contrabandear. Sim, é daí que vem o célebre apelido Cohntra-bendit que, mais do que designar um expoente individual da circunstância francesa, serve de abrigo taxonómico para uma longa e profícua genealogia de inúteis soi disant bem pensantes. O segredo do relativo êxito da França está assim na sua incapacidade para concretizar as ideias que produz (veja-se o celebérrimo caso do socialismo dito francês) e no sucesso que alcança quando se trata de exportá-las. Os países que as importam, encandeados pela luminosidade aparente das ditas, acabam por concretizá-las com entusiasmo e com um profissionalismo que a França nunca seria capaz de alcançar. Ora, como as ideias são em si mesmas más e não valem um vinte e sete avos do marketing que as rodeia, tais países acabam por prejudicar-se, o que deixa a França numa posição relativa mais vantajosa. Sendo tudo isto assim, como é (pronto, posso admitir que a Revolução Francesa teve aspectos positivos, mas estou convencido que, na verdade, só aconteceu porque no meio daquilo tudo alguns perderam a cabeça e que, em todo o caso, o contributo decisivo para a modernidade veio da Inglaterra), devo entretanto reconhecer que os franceses apresentam, episodicamente e, provavelmente, de forma involuntária (a tal coisa da Revolução Francesa), momentos em que se conseguem superar. Por exemplo, nas recentes eleições presidenciais, parecia impossível que pudessem encontrar um sucessor com a estatura de Sarkozy. Pois bem, honra lhes seja feita, eles conseguiram: