Que regras tem este jogo?
É altura de rever “La Règle du Jeu“ de Jean Renoir. Parece impossível, mas aprende-se muito com o passado. O filme foi estreado em 1939, o ano que hoje sabemos ter sido aquele em que a Europa morreu para o mundo e talvez por isso, pela desvairada ilusão em que todos viviam, literalmente todos, dos comunistas aos fascistas com tudo o que havia pelo meio, suscitou a execração geral.
Porque foi tão odiado então um filme que depois viria ser tão obviamente amado? Porque por exemplo há um estupefacto marquês que a dado passo tem a lucidez e a impotência de dizer: “O que é terrível nesta terra é que todos têm as suas razões”. Tinham, como nesse Outono de 39 se começou a perceber, ou seja, ninguém tinha razão nenhuma porque menos com menos só resulta em mais desgraça.
Rever “La Règle du Jeu” ajuda a desconfiar do poder e da virtude prometida pelo novo senhor que se sentou à mesa no château de França. Quando o marquês do filme se enfada de vez com a confusão instalada no castelo ordena ao criado: “faites cesser cette comédie”, ao que este, sonso e arguto como todos os servos, lhe contesta: “laquelle, Monsieur?”
Vejam como nos pusemos: de boné torcido nas mãos à espera de uma palavra do marquês de Hollande que nos mude o destino, que dele venha um gesto de compreensão e misericórdia com o nosso penar. E enquanto nos prostramos na soleira do portão, negligenciamos que ao fundo do quintal se vai armando uma patuleia de muito má índole. O que sucedeu na Grécia é bem mais feio e decisivo do que as prováveis hesitações do futuro Hollande, porque a barafunda, como se sabe e é patente, grassa sempre das periferias para o miolo.
Serão as ilusões de 39 outra vez? “lequelles, Monsieurs?”