Outra coisa.
Vale a pena perguntar se o Pingo Doce ganhou algo com os descontos de 1 de Maio. A resposta não é simples. Em geral os cortes nos preços dos produtos alteram a percepção do seu valor pelos consumidores, o que prejudica as respectivas marcas a longo prazo. Mas neste caso o corte foi universal, e é de supor que essa desvalorização psicológica não se verifique.
Por outro lado, os cortes costumam servir objectivos tácticos muito concretos: conduzir à experimentação (o que neste caso não se aplica), criar fidelidade (mas tinha de ser uma acção mais prolongada, como está a fazer a Cervejaria Portugália actualmente), dinamizar um novo canal (por exemplo a internet), gerar rotação de stocks (o que vale para produtos sazonais ou de duração limitada), ganhar quota de mercado (com efeito muito discutível) ou provocar uma alta notoriedade em marcas que estão um pouco apagadas, o que neste caso também não era verdade.
Restam portanto os objectivos políticos. Dizer que a Jerónimo Martins afrontou os sindicatos não chega, porque há muito que o poder das centrais sindicais não era um problema para a empresa. Já combater as criticas recentes da esquerda a Soares dos Santos, demonstrando que a empresa tem “o povo do seu lado”, parece-me um motivo mais verosímil.
Mas isto revela alguma irracionalidade da gestão, que talvez esteja disposta a sacrificar margens para ganhar uma conversa de café.