A azia das mesas fartas
São inenarráveis as críticas que li ao Zero Desperdício, projecto nascido da mais pura Sociedade Civil, pelas mãos de gente como o Comandante António Costa Pereira, a Patrícia Vasconcelos e a Paula Policarpo. A frase da polémica, presente no hino da iniciativa, "o que eu não aproveito ao almoço e ao jantar / a ti deve dar jeito / temos de nos encontrar", não é, de facto, feliz, e peca por crua. Deve no entanto analisar-se a fundo a ideia e ver que, para além dos seus méritos, a música foi escrita pelo Tim, sim, o vocalista dos Xutos & Pontapés, e interpretada por nomes como Sérgio Godinho, Jorge Palma, Ana Bacalhau (dos Deolinda) e Boss AC. Parece-lhes mesmo que toda esta gente é passível de ser adjectivada daquela forma? Parece-lhes mesmo que um projecto deste cariz, em que os promotores se limitam a fazer trabalho de diplomacia, através ligação entre privados e autarquias, sem qualquer retribuição ou circulação de dinheiro, merecem ver o seu projecto e nomes vilipendiados desta forma?
É com imenso orgulho que a Junta de Freguesia que os meus eleitores me confiaram, a de Campolide, é a primeira a participar neste projecto. Ao invés de encherem caixotes do lixo, alimentos que sobraram ontem do Hotel Ritz, do Vitaminas do Centro Comercial Amoreiras e do Pingo Doce de Campolide, cobrirão hoje a mesa de mais de uma dezena de famílias carenciadas que os vieram buscar durante o dia. Estas famílias terão uma feliz e tranquila digestão, que a azia dos outros não prejudicará.