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Delito de Opinião

Uma questão de "timing"

Carlos Barbosa de Oliveira, 20.04.09

O Presidente da República puxou as orelhas ao governo e às empresas. Fez bem.

No entanto, é discutível o “timing” escolhido. Em ano de eleições, as declarações de Cavaco Silva podem ser interpretadas como uma tomada de posição em favor de um partido. Além do mais, outras situações em que se remeteu ao silêncio, quando teria sido oportuna e desejável a sua intervenção, poderão favorecer essa interpretação.  
Quando foi eleito, Cavaco Silva afirmou que seria presidente de todos os portugueses. Acreditei. Depois do silêncio a que se remeteu durante o gravíssimo episódio da Madeira, com o deputado populista, deixei de acreditar. Não só varreu a questão para debaixo do tapete, como é hábito fazer-se em Portugal quando os problemas são delicados, como ainda se mostrou incomodado quando o questionaram sobre o assunto. Desvalorizou a questão, dizendo que o importante era o desemprego e a competitividade das empresas.
O PR não ficou bem na fotografia. E ficou ainda mais desfocado, quando disse que não tinha poder para intervir, porque isso significa que desconhece a Constituição e os poderes do PR. Ou, melhor: só os invoca quando lhe convém.

Foi o caso daquela encenação melodramática a propósito do Estatuto dos Açores. Nessa altura não se coibiu de fazer uma inoportuna comunicação ao País, para se queixar dos malandros da AR que lhe queriam usurpar poderes. Pela mesma bitola, seria de esperar que Cavaco Silva se dirigisse ao país, quanto mais não fosse, para informar os portugueses que estava a seguir atentamente a situação na Madeira. Não o terá feito, com medo de enfrentar o senhor da Madeira que ainda há pouco tempo o tratava por "sr. Silva"? Bem, se não foi medo, é ainda mais grave. Significa que tem dois pesos e duas medidas, o que não compagina com a sua vontade de ser presidente de todos os portugueses.
Repito: Cavaco esteve bem ao tecer duras críticas ao governo (embora peque por ter esquecido que algumas das críticas assentam que nem uma luva ao seu tempo de PM),  mas gostaria de ter um presidente que mantivesse essa firmeza e fosse capaz de falar com voz grossa noutras situações e para outros destinatários. Ganhava o país e a credibilidade da figura do PR É que esta  noção que Cavaco Silva  tem de normalidade em política, deixa-me bastante preocupado…

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