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Delito de Opinião

As editoras mais longe dos leitores

Pedro Correia, 17.04.12

Numa das minhas livrarias mais estimadas - a Barata, na Avenida de Roma, em Lisboa - espreito as novidades editoriais. Um romance com um belíssimo título prende-me de imediato a atenção: Lágrimas na Chuva, de Rosa Montero, escritora e jornalista espanhola que há muito aprecio, autora de obras como Instruções para Salvar o Mundo  e A Louca da Casa. Obras que são do melhor que li na última década.

Pego num exemplar do livro, abro as primeiras páginas, e lá surge o aviso da Porto Editora: o novíssimo romance de Rosa Montero foi traduzido de acordo com o famigerado "acordo ortográfico". Motivo de sobra para o pôr logo de lado. Que faça bom proveito, a esta e outras editoras, terem aderido tão entusiasticamente ao acordês...

Comprador compulsivo de livros, mantenho a promessa de não gastar um só euro em obras que pervertam a nossa ortografia. Felizmente na Barata não faltam outros títulos, mais antigos ou mais recentes, escritos de acordo com a norma ortográfica que considero válida. E, como eu, tantas figuras relevantes das nossas letras - de António Lobo Antunes a Manuel António Pina, de Manuel Alegre a Baptista-Bastos, de Pedro Tamen a Vasco Graça Moura, de Inês Pedrosa a Miguel Esteves Cardoso.

Trago da Barata não um livro, mas dois: O Livro dos Snobs, de W. M. Thackeray (Guerra & Paz, 2010) e Um Homem na Lua, volume de contos de Edgar Allan Poe, traduzido por Domingos Monteiro (Editorial Inquérito, sem data mas presumo que dos anos 70).

Há sempre uma solução para tudo. Em matéria de livros, a minha solução é esta: cada vez mais obras antigas, cada vez menos títulos recém-lançados em Portugal. O "acordo ortográfico" fez-se, segundo os seus mentores, também para facilitar a penetração dos livros portugueses no mercado brasileiro. Sendo as coisas o que são, duvido que tal objectivo se concretize. Pelo contrário, a ortografia segundo as regras do acordês dificultará a expansão dos livros portugueses para Angola e Moçambique, países que não ratificaram o "acordo". E afasta inevitavelmente muitos leitores, como eu. Leitores que entendem que espectador e sector devem continuar a escrever-se espectador e sector e não espetador e setor. Algo bem diferente, algo inaceitável.

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