Da originalidade da música actual (ou: copy/remix/rec) e da forma como é criticada (ou: hemorragia de referências)
Reveladas nessoutro momento seminal do hip-hop deste princípio de década chamado Black Up, dos Shabazz Palaces, as THEESatisfaction são tão hip-hop quanto são soul ou jazz. Ocupam um território onde antes já foram avistados os Floetry ou por onde Erykah Badu e Ursula Rucker por vezes ainda param para abastecer, mas a verdade é que não são nada disto. […] Stasia e Catherine permitem-se igualmente ir a um experimentalismo claustrofóbico que mais facilmente associaríamos à troca de ideias dos Anti-Pop Consortium com o pianista Matthew Ship (God, Enchantruss), ao mesmo tempo que se percebem nas entrelinhas Q-Tip, os De La Soul ou os Handsome Boy Modeling School.
Da crítica de Gonçalo Frota a awE naturalE, das THEESatisfaction, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Cinco estrelas.
Dr John encontrou em Dan Auerbach, dos Black Keys, o parceiro no crime perfeito. Não porque este lhe tenha mostrado um novo caminho ou promovido uma modernização (expressa pavorosa) da música do homem que nos deu Gris Gris e que se moldou enquanto personificação do espírito musical dopado, assombrado, miscigenado de blues e funk, de jazz e Mardi-Gras de Nova Orleães. […] A banda reunida por Auerbach não dá tréguas. […] São aqueles metais (senhores, aqueles metais!) que emergem das profundezas de um sonho africano (etíope como Mulatu Astakte?, nigeriano como Fela Kuti?) para transformar Dr John no nosso soberano incontestado.
Da crítica de Mário Lopes a Locked Down, de Dr John, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Cinco estrelas.
O arranque, The Whip Hand, é uma das melhores peças da sua discografia, colocando-nos na inimaginável pista do que poderiam ser os N.E.R.D. se a sua fórmula de R&B/funk mais rock tivesse nascido na cabeça destes dois e não nas de Chad Hugo e Pharrell Williams.
Da crítica de Gonçalo Frota a Noctourniquet, dos Mars Volta, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Três estrelas.
Camp é hip hop pós Kanye West, ou melhor, é hip hop à Kanye West. […] Camp ouve-se sem sobressaltos e com curiosidade. Porque Childish tem bom flow e porque vemos nele algo como que a versão hi-tech de Tyler The Creator. […] Mas Camp, por outro lado, tem um grande contra si. Kanye West. O Kanye West do hip hop sintético de 808 & Heartbeat. […] Uma sombra da qual Childish Gambino não se liberta.
Da crítica de Mário Lopes a Camp, de Childish Gambino, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Três estrelas.
Cada um destes elementos podia estar no museu, há tanto tempo que as subespécies a que pertencem foram reconhecidas e etiquetadas. Mas posto sob esta ordem, com esta reverberação nas guitarras e este timbre de voz, quase parece que é novo. […] Com uma variante: é possível que apreciemos mais quando essa repetição não se esgota na simples emulação, quando há um miligrama não de originalidade mas sim de individualidade. […] E que tem atrás de si uma banda que percorre todos os truques da cartilha R&B parecendo estar sempre a descobri-los pela primeira vez. […] A soul conhece isto desde os tempos em que os pretos eram só pretos e a mulata não era a tal. […] os truques estão aqui todos […] Parece pouco, né?
Da crítica de João Bonifácio a Girls & Boys, dos Alabama Shakes, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Quatro estrelas e meia.
Havia um sexto álbum em análise mas era de música clássica.