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Delito de Opinião

Surpresas

Ana Vidal, 01.04.12

 

Fui ontem ver "Amigos improváveis", acabado de estrear nas salas portuguesas. Confesso que ia de pé atrás: a história, por ser verídica e delicada, poderia facilmente resvalar para moralismos e lamechices insuportáveis: a amizade entre um milionário francês tetraplégico e um senegalês delinquente, dois mundos aparentemente inconciliáveis e cheios de contrastes chocantes. Mas não há moralismos nem lamechices, pelo contrário: o filme está repassado de um humor tão política e socialmente incorrecto que percebemos depressa que seria impensável no cinema americano, tão preso a limitações e preconceitos desta ordem. Essa liberdade é  uma das razões por que gosto tanto do cinema europeu. O filme fala com descontracção e abertamente de alguns tabus relacionados com os deficientes, como o suicídio e o sexo.  E chorei, mas... a rir. Porque as únicas lágrimas possíveis são devidas a cenas hilariantes, como por exemplo o primeiro impacto de uma ópera (A Flauta Mágica, escolhida não por acaso) no homem da rua que só ouvia Earth Wind and Fire aos gritos.

 

Eric Toledano e Olivier Nakache, os quase desconhecidos realizadores, viram com espanto o seu filme ser um êxito estrondoso de bilheteira, tornando-se no segundo mais visto desde sempre em França. Além disso, o filme consagra definitivamente o actor Omar Sy, num papel tão notável que roubou ao premiadíssimo Jean Dujardin (O Artista) o César para Melhor Actor. O sucesso foi tanto que está já na calha uma versão americana, como não podia deixar de ser. Não tenciono vê-la, por todas as razões que já referi. Last but not the least, a belíssima banda sonora de Ludovico Einaudi.

 

Um filme terno, inteligente e com uma saudável loucura, que recomendo a todos nestes dias cinzentos.

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