Certos animais de escamas
Brilham os olhos de Rita no escuro aquático do medo.
Orson Welles era demasiado inteligente para gostar de metáforas. Com ele era tudo literal. Donde o medo dela, nem é bem medo, será ansiedade?, diante de uma parede de vidro. Sabemos que é azul porque já ali estivemos, mas o que deles vemos é contra uma luz líquida e branca.
“Sigamos o cherne, minha amiga! Desçamos ao fundo do desejo”, segreda-lhe ele, enquanto de costas para que não lhe vejam os olhos, ou os dentes.
E Rita vibra e vê circular o cação, tão esguio na sua pele malhada, num sossego de águas transparentes (foi mesmo assim!):
“Em cada um de nós circula o cherne, quase sempre mentido e olvidado.” Diz ela o que lhe vem à cabeça loira.
Só no fim concordam que se podem beijar sem receio. Entrega-se Rita, multiplicadas Ritas. Vitória literal de Welles.